Karl
Marx era alemão, da cidade de Trier, da província da Renânia, região limítrofe
da França, ao sudoeste. O pai era judeu, advogado, alto funcionário da
organização jurídica do Estado prussiano que, para manter o emprego, converteu
a família ao cristianismo, quando Marx era ainda criança. O pai preocupou-se em
proporcionar ao filho excepcionalmente inteligente, ativo e dotado de
qualidades de liderança social revolucionária, primorosa instrução. Enviou-o
para Bonn para estudar Direito. Marx, entretanto, logo se transferiu para
Berlim, onde se laureou em Filosofia. Não conseguindo manter-se na carreira do
magistério superior, enfronhou-se na de jornalista, que lhe propiciou o ensejo
de tão intensa e profícua amizade, que é difícil imaginar que teria realizado
seu relevante papel na História, sem a colaboração de Engels, o amigo,
industrial e filho de industrial.
Na Universidade de Berlim, Marx viveu
num ambiente mental hegeliano, caracterizado pela ideologia da supremacia do
Espírito, cuja realização no tempo e no espaço constitui a Natureza, a
realidade, a História, o Absoluto: tudo que é racional é real, e tudo que é
real é racional”. A racionalidade é a substância fluida, vivificante e
encharcante que movimenta a realidade. A racionalidade é o Espírito, o Absoluto
que tudo gera, tudo cria, cria a Natureza e a Cultura. “O único pensamento que
a filosofia traz para a contemplação da história é o simples conceito da Razão:
que a Razão (a lógica e a lei dos acontecimentos) é a Soberana do Mundo; que
consequentemente a história do mundo apresenta-nos um processo racional.” “A
Razão é a substância do universo, isto é, aquilo pelo qual e no qual toda
realidade tem sua existência e subsistência.” É “a Infinita Energia do Universo”.
Nesse ambiente cultural hegeliano, em
1841 Ludwig Feuerbach publica “A Essência do Cristianismo” em que afirma que a
religião é um ato de alienação humana, em que “o homem põe suas qualidades, suas
aspirações e seus desejos fora de si, afasta-se, aliena-se, e constroi sua
divindade.” “Deus é o espelho do homem.” A religião é um fato humano: “Tu conheces
o homem pelo seu deus e, reciprocamente Deus pelo homem; um e outro se
identificam ... Deus é o íntimo revelado, a essência do homem expressa; a
religião é a revelação solene dos tesouros ocultos do homem, a profissão
pública de seus segredos de amor.” “O núcleo secreto da teologia é a
antropologia”. “O ser divino é o ser do
homem libertado dos limites do indivíduo, isto é, dos limites da corporeidade e
da realidade, mas objetivado, ou seja, contemplado e adorado como outro ser,
distinto dele.” Reale e Antiseri explicam esse ato humano da alienação:: “Porque
a natureza é insensível a seus sofrimentos, tem segredos que o sufocam. A
religião é um alívio”, e citam Feuerbach: “Deus é uma lágrima de amor derramada
no mais profundo segredo sobre a miséria humana.” E concluem: “Assim,
entende-se que o princípio moral
fundamental não é amar a Deus sobre todas as coisas, mas amar ao Homem sobre
todas as coisas”, descrevendo o programa de conduta humana concebido pelo
filósofo: “Os homens precisam transformar-se de homens que creem em homens que
pensam, de homens que oram em homens que trabalham, de candidatos ao além em
estudiosos do aquém, de cristãos – que se reconhecem metade animais e metade
anjos - em homens em sua inteireza.”
Hegel e Feuerbach influenciaram profundamente
Karl Marx, o teórico do socialismo materialista, científico, histórico e
dialético. Possuo cinco livros da coleção “Os Economistas”, editados por Victor
Civita, com obras de Karl Marx: “O Capital”, sua obra prima, estende-se por
quatro deles e ostenta prefácio de Jacob Gorender, que narra que Marx chegou a
Berlim em 1846, cinco anos após a morte de Hegel e deparou-se com a filosofia
de Hegel, interpretada por seus discípulos. Enturmou-se com a denominada ala
esquerdista hegeliana, liberal e democrática, desajustada com o pensamento
político do Estado germânico. Gorender alude à confidência epistolar de Marx ao
pai sobre sua mentalidade materialista: “a partir do idealismo...fui levado a
procurar a Ideia na própria realidade...”
Jornalista, ocupou-se cotidianamente com
assuntos políticos e econômicos, entre os quais as novidades surgidas da civilização
industrial nascente na Europa. Sente a genialidade de um trabalho de Engels, de
ideias socialistas, publicado em seu jornal. E Gorender expressa sua opinião:
“Mais importante que tudo, porém, foi que o opúsculo de Engels transmitiu a
Marx, provavelmente, o germe da orientação principal de sua atividade teórica:
a crítica da Economia Política enquanto ciência surgida e desenvolvida sob
inspiração do pensamento burguês.” Reale
e Antiseri dizem que “O pensamento de Marx formou-se em contato e contra a
filosofia de Hegel, as ideias da esquerda hegeliana, as obras dos economistas
clássicos e as obras dos socialistas que ele próprio chamaria de utópicos.”
(continua)
[...] é difícil imaginar que teria realizado seu relevante papel na História, sem a colaboração de Engels, o amigo inglês, industrial e filho de industrial.
ResponderExcluir- Friedrich Engels (pronúncia em alemão: [ˈfʁiːdʁɪç ˈʔɛŋl̩s]; Barmen, 28 de novembro de 1820 — Londres, 5 de agosto de 1895) foi um empresário industrial e teórico revolucionário prussiano, nascido na atual Alemanha, que junto com Karl Marx fundouo chamado socialismo científico ou marxismo.
Corrigido.
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