quarta-feira, 24 de junho de 2020

500. Karl Marx


Karl Marx era alemão, da cidade de Trier, da província da Renânia, região limítrofe da França, ao sudoeste. O pai era judeu, advogado, alto funcionário da organização jurídica do Estado prussiano que, para manter o emprego, converteu a família ao cristianismo, quando Marx era ainda criança. O pai preocupou-se em proporcionar ao filho excepcionalmente inteligente, ativo e dotado de qualidades de liderança social revolucionária, primorosa instrução. Enviou-o para Bonn para estudar Direito. Marx, entretanto, logo se transferiu para Berlim, onde se laureou em Filosofia. Não conseguindo manter-se na carreira do magistério superior, enfronhou-se na de jornalista, que lhe propiciou o ensejo de tão intensa e profícua amizade, que é difícil imaginar que teria realizado seu relevante papel na História, sem a colaboração de Engels, o amigo, industrial e filho de industrial.
            Na Universidade de Berlim, Marx viveu num ambiente mental hegeliano, caracterizado pela ideologia da supremacia do Espírito, cuja realização no tempo e no espaço constitui a Natureza, a realidade, a História, o Absoluto: tudo que é racional é real, e tudo que é real é racional”. A racionalidade é a substância fluida, vivificante e encharcante que movimenta a realidade. A racionalidade é o Espírito, o Absoluto que tudo gera, tudo cria, cria a Natureza e a Cultura. “O único pensamento que a filosofia traz para a contemplação da história é o simples conceito da Razão: que a Razão (a lógica e a lei dos acontecimentos) é a Soberana do Mundo; que consequentemente a história do mundo apresenta-nos um processo racional.” “A Razão é a substância do universo, isto é, aquilo pelo qual e no qual toda realidade tem sua existência e subsistência.” É “a Infinita Energia do Universo”.
Nesse ambiente cultural hegeliano, em 1841 Ludwig Feuerbach publica “A Essência do Cristianismo” em que afirma que a religião é um ato de alienação humana, em que “o homem põe suas qualidades, suas aspirações e seus desejos fora de si, afasta-se, aliena-se, e constroi sua divindade.” “Deus é o espelho do homem.” A religião é um fato humano: “Tu conheces o homem pelo seu deus e, reciprocamente Deus pelo homem; um e outro se identificam ... Deus é o íntimo revelado, a essência do homem expressa; a religião é a revelação solene dos tesouros ocultos do homem, a profissão pública de seus segredos de amor.” “O núcleo secreto da teologia é a antropologia”.  “O ser divino é o ser do homem libertado dos limites do indivíduo, isto é, dos limites da corporeidade e da realidade, mas objetivado, ou seja, contemplado e adorado como outro ser, distinto dele.” Reale e Antiseri explicam esse ato humano da alienação:: “Porque a natureza é insensível a seus sofrimentos, tem segredos que o sufocam. A religião é um alívio”, e citam Feuerbach: “Deus é uma lágrima de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana.” E concluem: “Assim, entende-se que  o princípio moral fundamental não é amar a Deus sobre todas as coisas, mas amar ao Homem sobre todas as coisas”, descrevendo o programa de conduta humana concebido pelo filósofo: “Os homens precisam transformar-se de homens que creem em homens que pensam, de homens que oram em homens que trabalham, de candidatos ao além em estudiosos do aquém, de cristãos – que se reconhecem metade animais e metade anjos -  em homens em sua inteireza.”
Hegel e Feuerbach influenciaram profundamente Karl Marx, o teórico do socialismo materialista, científico, histórico e dialético. Possuo cinco livros da coleção “Os Economistas”, editados por Victor Civita, com obras de Karl Marx: “O Capital”, sua obra prima, estende-se por quatro deles e ostenta prefácio de Jacob Gorender, que narra que Marx chegou a Berlim em 1846, cinco anos após a morte de Hegel e deparou-se com a filosofia de Hegel, interpretada por seus discípulos. Enturmou-se com a denominada ala esquerdista hegeliana, liberal e democrática, desajustada com o pensamento político do Estado germânico. Gorender alude à confidência epistolar de Marx ao pai sobre sua mentalidade materialista: “a partir do idealismo...fui levado a procurar a Ideia na própria realidade...”
Jornalista, ocupou-se cotidianamente com assuntos políticos e econômicos, entre os quais as novidades surgidas da civilização industrial nascente na Europa. Sente a genialidade de um trabalho de Engels, de ideias socialistas, publicado em seu jornal. E Gorender expressa sua opinião: “Mais importante que tudo, porém, foi que o opúsculo de Engels transmitiu a Marx, provavelmente, o germe da orientação principal de sua atividade teórica: a crítica da Economia Política enquanto ciência surgida e desenvolvida sob inspiração do pensamento burguês.”  Reale e Antiseri dizem que “O pensamento de Marx formou-se em contato e contra a filosofia de Hegel, as ideias da esquerda hegeliana, as obras dos economistas clássicos e as obras dos socialistas que ele próprio chamaria de utópicos.”
(continua)

2 comentários:

  1. [...] é difícil imaginar que teria realizado seu relevante papel na História, sem a colaboração de Engels, o amigo inglês, industrial e filho de industrial.

    - Friedrich Engels (pronúncia em alemão: [ˈfʁiːdʁɪç ˈʔɛŋl̩s]; Barmen, 28 de novembro de 1820 — Londres, 5 de agosto de 1895) foi um empresário industrial e teórico revolucionário prussiano, nascido na atual Alemanha, que junto com Karl Marx fundouo chamado socialismo científico ou marxismo.

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