Além da alienação religiosa, Marx
insurgiu-se também contra a alienação do trabalho. O homem difere do animal
pelo seu trabalho. A aranha nasce e produz teias para sobreviver. A abelha
nasce e coopera numa colmeia para a produção de mel para sobreviver. O homem
nasce, concebe interiormente na mente como adaptar a natureza às suas
necessidades de sobrevivência e na execução desse trabalho de sobrevivência, em
conjunto com os outros homens, se realiza, se faz. O Homem se faz homem através
do seu trabalho, do trabalho que é interno a seu ser. Ora, explicam Reale e Antiseri, Marx entende
que no capitalismo, o homem não se constrói através do trabalho, mas apenas
obtém os meios de subsistência. Marx acusa o capitalismo, que se funda na
propriedade privada, de transformar o operário em mercadoria. É a alienação do
trabalho que “Consiste antes de mais nada no fato de que o trabalho é externo
ao operário, isto é, não pertence ao seu ser e, portanto, ele não se afirma em
seu ser, mas se nega, não se sente satisfeito, mas infeliz, não desenvolve
energia física e espiritual livre, mas definha seu corpo e destroi seu
espírito.”
À alienação do trabalho conjuga-se a
teoria do materialismo histórico: “A produção das ideias, das representações,
da consciência, em primeiro lugar, está diretamente entrelaçada à atividade
material e às relações materiais dos homens, linguagem da vida real... E do
mesmo modo, isso vale para a produção espiritual, como ela se manifesta na
linguagem da política, das leis, da moral, da religião etc. de um povo... O
modo de produção da vida material condiciona, em geral, o processo social,
político e espiritual da vida...com a mudança da base econômica, transforma-se
mais ou menos rapidamente toda a gigantesca superestrutura... os homens
começaram a se distinguir dos animais quando começaram a produzir seus meios de
subsistência, e o de que os indivíduos são dependentes...das condições
materiais de sua produção.” E Reale e Antieri concluem: “Tudo isso para dizer
que a história verdadeira e fundamental é a dos indivíduos reais, de sua ação
para transformar a natureza e de suas condições materiais de vida.”, e, na
expressão do próprio Marx em “Miséria da Filosofia”: “O moinho braçal vos dará
a sociedade com o senhor feudal, e o moinho a vapor a sociedade com o
capitalista industrial.”
Para Marx a realidade é devir, é
transformação, é contradição, é processo em três fases: tese, antítese e
síntese, ou afirmação, negação e afirmação em permanente processamento: “Para
Hegel, o processo do pensamento, que ele transforma até em sujeito
independente, com o nome de ideia, é o demiurgo do real, que, por seu turno,
constitui somente o fenômeno exterior da ideia ou processo do pensamento.”
Marx, todavia, diverge de Hegel: “Para mim, ao contrário, o elemento ideal nada
mais é do que o elemento material transferido e traduzido no cérebro dos
homens... As ideias da classe dominante
são em cada época as ideias dominantes, isto é, a classe que é a potência
material dominante da sociedade é ao mesmo tempo sua potência espiritual
dominante.... Desse modo,.. tais ideias e categorias são tão pouco eternas
quanto as relações que elas exprimem. São produtos históricos e
transitórios.”
Assim, no Manifesto do Partido
Comunista, de 1848, Marx proclamava: “A história de toda a sociedade que
existiu até este momento é história de luta de classes... Toda sociedade se
baseou até agora, como vimos, sobre o contraste entre classes de opressores e
classe de oprimidos.” E Marx entrevê nos embates entre burguesia e proletariado
o anúncio da vitória do proletariado:“ Mas, para poder oprimir uma classe,
devem estar asseguradas condições dentro das quais ela possa ao menos viver com
dificuldades sua vida de escrava... Mas, o operário moderno, em vez de
elevar-se conforme a indústria progride, desce sempre mais abaixo das condições
de sua própria classe.” E Marx conclui: “De tudo isso torna-se evidente que a
burguesia não está em grau de permanecer ainda muito tempo como a classe dominante da sociedade e de
impor à sociedade as condições de vida da própria classe como lei reguladora...
Com o desenvolvimento da grande indústria, portanto, é tirado de sob os pés da
burguesia o próprio terreno sobre o qual
ela produz e se apropria dos produtos.
Ela produz em primeiro lugar seus coveiros. Seu ocaso e a vitória do
proletariado são igualmente inevitáveis.”
Ora, o ambiente intelectual, político e
econômico daqueles tempos abrigava a novidade suscitada pelo socialismo
utópico: o problema social, a agitação social, a revolta da classe operária brotavam
da injustiça social, que tinha sua origem no direito de propriedade que
precisava ser abolido, instaurando-se o comunismo. Marx, contrapunha-lhe o seu
socialismo científico, declarando inviável a solução via procedimentos
moralistas, já que a agitação social era fenômeno próprio da dinâmica da
História consistente na luta de classes, condicionada pelo progresso
tecnológico: “O moinho braçal vos dará a sociedade com o senhor feudal, e o
moinho a vapor a sociedade com o capitalista industrial.”
(continua)
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