quinta-feira, 2 de julho de 2020

501. Karl Marx (continuação)

Em 1844 Marx produz “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” e “A Questão Judaica” e, segundo Gorender, “Ambos marcam a virada de perspectiva, que consistiu na transição do liberalismo burguês ao comunismo.” Já Reale e Antiseri explicam que Marx entende “que as instituições jurídicas e políticas e as diversas formas de Estado não podem se explicar por si mesmas e em virtude de um chamado desenvolvimento do espírito humano, mas são o resultado das condições materiais da vida... Substancialmente, para Marx, a filosofia de Hegel interpreta o mundo de cabeça para baixo: é ideologia. Hegel raciocina como se as instituições existentes... derivassem de puras necessidades racionais, legitimando assim a ordem existente... transforma em verdades filosóficas dados que são puros fatos históricos e empíricos...”
Esses autores, depois de explicitarem as duas principais acusações de Marx contra Hegel – subordinação da sociedade civil ao Estado e inversão de sujeito e predicado (os indivíduos humanos, os sujeitos reais, tornam-se predicados da substância mística universal), pois patente é que “não é a religião que cria o homem, mas o homem que cria a religião, da mesma forma não é a constituição que cria o povo, mas o povo que cria a constituição.”, concluem que, segundo Marx, “Hegel não deve ser censurado por descrever o ser do Estado moderno tal como é, mas sim por considerar aquilo que é como  essência do Estado.”, isto é, ”Hegel pensa que está descrevendo a essência do Estado, ao passo que, de fato, está descrevendo e legitimando a realidade existente que é o Estado prussiano.”
Em 1844, Marx publica a “Ideologia Alemã” e, coautoria com Engels, “A Sagrada Família”, crítica aos hegelianos de esquerda, que consideravam a religião cristã fato puramente humano e, professando ideias democráticas, se opunham ao Estado prussiano. Segundo Marx, a ideia básica da esquerda hegeliana consiste  na      convicção de que a atividade humana é gestada e conduzida por sua consciência. Assim, pede aos homens que “substituam sua consciência atual pela consciência humana...a de interpretar diferentemente o que existe.” Ora, “não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência.” A esquerda hegeliana, portanto, nada tem de radical, de libertadora. “Ser radical significa colher as coisas pela raiz... E, para o homem a raiz é o próprio homem.” A libertação do homem não consiste em reduzir “a filosofia, a teologia, a substância e toda a imundície à auto-consciência.... A libertação é ato histórico e não ato ideal, concretizando-se por condições históricas, pelo estado da indústria, do comércio, da agricultura...”
Reale e Antiseri  explicam que Marx concorda com Feuerbach: a religião é antropologia, mas constatando-lhe a incapacidade de apreender o problema principal que é o motivo por que o homem cria a religião: “ O homem aliena o seu ser, e projeta-o em um deus imaginário, somente quando a existência real na sociedade de classes lhe impede o desenvolvimento e a realização de sua humanidade.” E citam Marx:  “O Estado e a sociedade produzem a religião, que é a consciência invertida do mundo.... A miséria religiosa é a expressão da miséria real em um sentido e, em outro, é o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida...é o ópio do povo.” Assim, a primeira função da filosofia a serviço da história é desmascarar a auto-alienação religiosa: “Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de modos diversos; agora, trata-se de transformá-lo.”
(continua)

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