Jean Charles Leonard Simonde de Sismondi
foi cidadão suíço, filho de um pai abastado e religioso, que perdeu a fortuna. As
vicissitudes da vida fizeram-no viajar. Foi bancário na França. Morou na
Inglaterra. Foi produtor rural no norte da Itália e retornou a Genebra, sua
cidade natal, onde se tornou escritor, historiador, economista e partícipe da
administração citadina. Na História da Economia, ele antecedeu a Karl Marx, influenciando
no pensamento econômico deste, que o menosprezava, todavia, como pensador
burguês.
Culto e
abastado, percebeu o alcance do pensamento econômico de Adam Smith, e escreveu
um livro, “De la Richesse Commerciale”, expondo-o: “...os interesses particulares
assim que se veem livres, conduzem naturalmente ao bem-estar geral... de todos
os obstáculos que detêm o avanço da indústria entre os povos da Europa moderna,
aqueles que lhe causam maior dano são nascidos da mania de quase todos os
legisladores em almejar dirigir o comércio.”
O amplo
conhecimento histórico adquirido ao longo dos anos e a observação constante do
ambiente social vivenciado, no entanto, alimentaram discordâncias da teoria do
livre mercado, e fizeram percebesse que a mão invisível do mercado juntamente
com o abastecimento do mercado, promove desarmonia, discrepância do interesse
individual com o interesse coletivo. E provocaram, assim, a produção de sua
obra prima, o “Novos Princípios de Economia Política”, que expõe as posteriores
discordâncias com relação à teoria econômica de Adam Smith, pretendendo ser a
teoria econômica correta: “Depois de quinze anos que escrevi sobre a Richesse
Commerciale, pouco li os livros de economia política; mas não cessei de estudar
os fatos. Muitos deles pareciam-me rebelar-se contra os princípios que eu havia
adotado. De um momento para o outro, porém, eles passaram a se encaixar, a
explicarem-se uns aos outros pelo novo rumo que dei à minha teoria.”
Sismondi; contrariando a própria
percepção que de si tinha – “Partirei desse mundo sem haver deixado nenhuma
impressão e nada será feito” - deixou seu nome imortalizado contribuindo para o
consenso científico de que o progresso econômico não é marcha tranquila e
constante para o progresso, mas escalada aventurosa, entre deflação e inflação,
recessão ou depressão e expansão, ou como se expressa o Livro da Economia, de
forma lúdica, corriqueira e intuitiva, de que “a Economia é um iô-iô. Naquela época,
século XIX, o pensamento de Sismondi se opunha ao de Say, enquanto hoje os
pensamentos desses dois autores se conciliam nos manuais de Economia, aquele tratando da Economia num contexto de curto
prazo (os ciclos econômicos), e este no de longo prazo (a tendência para o
equilíbrio).
A teoria econômica de Sismondi se
fundamenta na sua concepção de que a atividade econômica objetiva a felicidade
de toda a população de um país: “Os italianos buscavam o bem de todos, não
apenas dos senhores às expensas dos escravos ... A partir do momento em que
eles formaram seus próprios governos, e os formaram para o bem comum, eles
prosperaram: enquanto as demais nações sofriam, eles elevaram-se em inteligência
e virtude”, enquanto a economia do livre mercado, fulcrada numa produção
capitalista sempre superior à demanda, superabundância produtiva coexistente
com subconsumo, somente funciona desequilibrada, proporcionando o bem estar a restrito
número de capitalistas, e a desventura de ampla maioria de outras pessoas, principalmente
da classe dos trabalhadores: “O lucro do empresário
não é outra coisa senão uma espoliação do trabalhador que ele emprega. Ele não
ganha porque sua empresa produz muito mais do que ela lhe custa, mas porque ele
não paga tudo o que ela lhe custa... que se suas teorias tendiam a tornar os
ricos mais ricos, tornavam, também, os pobres mais pobres, mais dependentes e
mais espoliados...Esta opulência nacional, cujo progresso material nos ofusca a
todos, terá, por acaso, trazido, finalmente, alguma vantagem para o pobre? De jeito
nenhum... Cuidado com essa perigosa
teoria do equilíbrio, que deveria ser estabelecida automaticamente. Um certo
tipo de equilíbrio, é verdade, é restabelecido a longo prazo, mas é após uma
quantidade assustadora de sofrimento".
Essa desigual partilha da
produção se processa, em decorrência da própria engrenagem da concorrência, que
incita o capitalista a permanentemente prosseguir, até mesmo nas épocas
adversas: com sua produção: “Enfim, o próprio fabricante precisa de sua
indústria para sobreviver e ele não renuncia a ela de bom grado; ele está
sempre inclinado a atribuir a causas acidentais o declínio de seu comércio
durante o ano anterior; e quanto menos ele ganha, menos se dispõe a se retirar
dos negócios. A produção, portanto, prossegue ainda por muito tempo após ter
satisfeito a demanda; e quando finalmente ela vem a cessar, não o faz senão
após ter causado, a todos que a fizeram nascer, uma perda de capitais, de
rendimentos e de vidas humanas que não se pode calcular sem estremecer “
Com efeito, a mão invisível do livre mercado não
esparge apenas benefícios, ela proporciona igualmente malefícios: “Peço,
pois, que me prestem atenção: não é contra as máquinas, nem contra novas
descobertas, nem contra a civilização que se voltam as minhas objeções, mas
contra a moderna organização da sociedade, organização que, ao despojar o homem
que trabalha de toda e qualquer propriedade, com exceção de seus braços, não
lhe dá nenhuma garantia contra a concorrência, contra uma competição exacerbada
que se faz em seu prejuízo, e da qual ele é necessariamente a vítima.
Suponhamos que todos os homens partilhem igualmente entre si os produtos do
trabalho para o qual concorreram e que toda nova descoberta na indústria
represente, então, um benefício para todos eles, pois, após cada progresso na
indústria, eles poderão, sempre, escolher entre ter menos trabalho e um repouso
mais longo ou o mesmo trabalho e mais coisas para usufruir. Atualmente, não é
uma nova descoberta que constitui um mal, mas a injusta partilha que o homem
faz de seus frutos... a riqueza sempre tem por pressuposto a pobreza, e só se
desenvolve na medida em que promove a pobreza...”
Por sua vez, a economia capitalista propende, por sua
própria natureza, â produção suberabundante
de bens de primeira necessidade: “A multiplicação indefinida dos poderes produtivos
do trabalho não pode, portanto, ter outro resultado que não o aumento do luxo
ou dos prazeres dos ricos ociosos... O
prosseguimento de tal discrepância entre as respectivas composições da oferta e
da demanda reverteria então numa disponibilidade excessiva de mercadorias
seguida pela luta por mercados externos, dificuldades de venda, falências e
desemprego, configurando uma crise de abarrotamento (engorgement) geral dos
mercados. É extremamente importante observar que enquanto o efeito do aumento
dos capitais é em geral concentrar os trabalhos em manufaturas muito grandes, o
efeito das grandes riquezas é excluir quase totalmente os produtos dessas
manufaturas imensas do consumo dos ricos ... Assim, portanto, pela concentração
das fortunas em um pequeno número de proprietários, o mercado interior se
estreita sempre mais e a indústria é permanentemente empurrada a buscar saída
nos mercados estrangeiros, onde as maiores reviravoltas o ameaçam .”
Por fim, a
intensa obtenção da produtividade via incremento de tecnologia maquinal provoca o infortúnio da classe trabalhadora,
aviltando-lhe o salário e lançando-a no desemprego: “Eles [os poderosos] devem
perceber que existe na sociedade uma classe já numerosa e que tende cada dia a
aumentar, para quem a presente ordem de coisas não proporciona quaisquer dos
frutos da associação; eles são homens que, criando a riqueza pelo trabalho de
suas mãos, jamais dela participam.”
Assim Sismondi entende que o Estado tem um papel a
desempenhar na área econômica, a de supervisionar o funcionamento da atividade
econômica e tomar providências para que os desvios da normalidade sejam
evitados ou corrigidos, a fim de que o desejado equilíbrio econômico de
produção e consumo não seja prejudicado. Ele é precursor e inspirador do pensamento econômico de John Maynard Keynes. Outro
glorioso papel histórico de Sismonsdi é ser precursor e inspirador do Estado do
Bem Estar Social. Ele advogava a interferência do Estado na defesa dos economicamente fracos
e pobres, legalizando os sindicatos, regulamentando o trabalho, fixando o
salário-mínimo e o horário de trabalho, abolindo o trabalho infantil bem como
obrigando os empregadores a garantirem aos trabalhadores
os meios de subsistência em caso de desemprego, doença e velhice.
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