Outros psicólogos descrevem as características físicas
dos portadores da síndrome de Williams: baixa estatura na idade adulta, problemas
odontológicos (dentes pequenos e às vezes com mau fechamento da arcada
dentária), voz rouca e problemas de postura (cifose e lordose).
Não tenho a pretensão de formular qualquer diagnóstico
nem tenho autoridade científica nem profissional para tanto. Até mesmo concordo
com a observação de que se estaria forçando o enquadramento.
Apenas acho que seja, em verdade, difícil definir-se o
que seja a inteligência. Há várias teorias a respeito da inteligência. Alguns
dizem que a inteligência é uma capacidade especializada e inerente ao organismo
humano de decifrar e resolver os problemas práticos e teóricos com que o
indivíduo humano se depara. Seria uma dádiva da natureza: o indivíduo nasce com
ela. A maioria dos que defendem a teoria naturalista afirmam que uns nascem com
mais inteligência e outros com menos inteligência. A Natureza produz o carisma,
os líderes. E parece que essa abordagem é que está sendo, no momento, adotada
por interessados, neste País.
Essa teoria já causou recentemente vítima entre os
ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina, quando James Watson foi constrangido a
demitir-se do Laboratório de Cold Spring Harbor, simplesmente porque disse que
ia pesquisar a relação entre inteligência e raça, já que suspeitava existir
conexão da inteligência com o DNA. Nada há de democrático nessa abordagem. Ela
é elitista. Nada mais distante do materialismo-histórico-dialético e da
mentalidade dos progressistas e esquerdistas nacionais. Ela afirma que uns
nasceram para mandar, para ser reis, e outros nasceram para serem comandados,
para ser povo. É um retrocesso na História. Regride-se à Idade Média.
A afirmação de que inteligência é carisma não pode
caber no discurso de quem é democrata e esclarecido. E é aí que a Universidade
faz falta. Falta o conhecimento que a Universidade fornece para que o indivíduo
tenha total noção do que está falando e fazendo. Sem Universidade torna-se
difícil possuir o domínio sobre o próprio discernimento. O discurso varia
conforme as circunstâncias e os interesses tal qual a biruta se move ao sabor
dos ventos. Quem desconhece a Cultura, porque não se aprofundou através do
estagio universitário, pode achar normal que se tenha um discurso quando se é
oposição e outro quando governo, sobre a mesma matéria. Conhecimento faz parte
da inteligência humana. Conhecimento é o processo mental metodicamente
conduzido pela cultura acumulada pela Humanidade, ao longo de quinhentos
milênios. O falecido líder esquerdista Leonel Brizola apreciava jactar-se de
que sempre teve um discurso político coerente. Penso que ele queria dizer que
tinha um conhecimento sólido, consciente, esclarecido dos assuntos de interesse
público.
Sobreviver é socializar-se. E socializar-se é infundir
a cultura no indivíduo humano, a cultura que nada mais é que o conhecimento
acumulado por toda a Humanidade ao longo dos quinhentos milênios de sua
existência. O indivíduo, que despreza a Universidade, renega todo o
conhecimento humano – presente e passado – e se erige num ser humano quase
divino, tal qual os gregos imaginavam os seus heróis. É simplesmente ridículo.
Outra abordagem dos que adotam a teoria da
inteligência natural é a dos psicólogos progressistas radicais. Eles imaginam
que todos nascem com a mesma capacidade mental, isto é, todos têm a mesma mente
ao nascer. As influências do meio ambiente, interno e externo ao indivíduo, é
que desencadeiam o processo de diferenciação da inteligência individual. Todos
os fatores internos e externos, físicos e sociais, moldam a inteligência e
determinam-lhe a dimensão. Essa teoria sócio-histórica é adotada por psicólogos
da PUC de São Paulo. Teria sua origem com o psicólogo Vigotski, na ex-União
Soviética, e teria sido aplicada no Brasil em Educação por Emília Ferreiro e na
Psicologia Social pela professora Sílvia Lane. Essa abordagem parte, portanto,
da nada óbvia constatação de que todos nascemos idênticos. O indivíduo humano
nada mais é que o resultado da socialização. Socialização idêntica, indivíduos
humanos iguais e sociedade humana democrática. Nada de carismas, nada de
predestinações. O povo em sociedade, e só o povo em sociedade, é que comanda as
transformações. Esta teoria, portanto, não se coaduna com a mente dos que, ao
menos no discurso, deslustram o valor da cultura e da Universidade.
A maioria dos psicólogos estão com Ortega y Gasset: Eu
sou eu, e minhas circunstâncias. Cada indivíduo humano nasce com o seu
organismo e com a sua mente inconfundíveis com o organismo e a mente dos outros
indivíduos humanos. E cada processo existencial individual é diferente de todos
os outros. Mas, tudo isso que é inconfundível, é também muito semelhante. Eu
nasci com uma mente muito semelhante a de todos os outros, mas não igual, assim
como é a mesma cultura que me foi infundida através da socialização, embora em
circunstâncias muito próprias minhas. Daí os indivíduos humanos diferentes e
semelhantes, capazes de conviverem e necessitando da convivência para
sobreviver e, sobretudo, para conquistar uma convivência em grau de excelência.
Aí, sim, há lugar para o carisma e para a democracia.
Tudo na vida, com efeito, só existe, porque existem todas as condições
favoráveis para que aconteça. Assim, o processo de desenvolvimento humano
individual e social segue as coordenadas das condições favoráveis. É o
resultado do esforço histórico da Humanidade, algumas vezes desabrochando através
de uma individualidade carismática como Albert Einstein ou como Mozart, ou como
Carlos Magno, mas sempre resultado do amadurecimento do esforço da Equipe
Humana, que mais tarde ou mais cedo teria de ocorrer, permanecendo os mesmos estímulos
ambientais.
A cultura e a Universidade valem muito. A cultura e a
Universidade são, sobretudo, conhecimento, entre outras coisas. A cultura e a
Universidade são inteligência acumulada, sim. Não podemos, de modo algum,
separar indivíduo e sociedade. O bem do indivíduo não é dádiva de nenhum outro
indivíduo, não é favor. O bem do indivíduo é conseguido na sociedade e na
medida em que se integra à sociedade. Assim, pode-se bem afirmar: a
inteligência é cultura, é sociedade, e é Universidade.