A afirmação do Senador Jucá coincide com as colocações que
venho fazendo, desde o remoto ano de 2009 em que frequentava o almoço mensal da
AAFBB, para compartilhar por alguns momentos da convivência com tantos colegas
queridos, como Osni, Tavares, Douglas, Bassani, Betto, Teixeirinha, Bento,
Larichia, Loreni e o Alberto de imorredoura lembrança.
A nossa coincidente colocação, todavia, não tem o mesmo embasamento. O
senador atribui esse dilema ao fato de que o Governo estaria aplicando à
sociedade brasileira uma política econômica divergente daquela que o Povo
aceita ou quer. Eu já digo que o motivo é o fato de que estamos num regime
democrático, e num regime democrático o Povo é autogovernado.
Com efeito, o senador Jucá em várias oportunidades dá a impressão de que
formaria do Poder Legislativo conceito que ele certamente, excepcionalmente
esclarecido como inegavelmente é, não tem, a saber, um grupo de pessoas que
impõe ao Povo a conduta que lhe interessa:
“Ou a gente constrói uma agenda positiva para canalizar essa preocupação
ou essa preocupação vai se manifestar espontaneamente em aumento de despesas
para agradar a determinados setores como forma de tentar se salvar
individualmente.”
“O governo está falando uma linguagem que a sociedade não está
entendendo.”
Ele diz que a norma que aí está promovendo o reajuste não é a vontade do
Povo, mas uma norma de determinada área do Governo que desagrada a outra área
do Governo, isto é, nem consenso governamental é:
“(Dizia que) eu estava equivocado. Dizia que precisava fazer o
ajuste para depois ir para essas etapas. Eu dizia que primeiro tinha de ir para
essas etapas fazendo o ajuste. Podia ser junto.”
O senador esclarece o que ele acha que o Povo está querendo:
“O primeiro sacrifício deveria ter sido do governo para dar o exemplo.
Diminuir ministérios, consolidar empresas. Tinha de fundir empresas, acabar com
estatais ineficazes e juntar agências reguladoras.”
Não acho, e muitas outras pessoas também, que a insatisfação do Povo
Brasileiro se restrinja unicamente ao excessivo gasto do Setor Público,
referido ao volume de recursos de que o Estado dispõe. Há muitas outras razões
como, por exemplo, a corrupção, os conchavos políticos, a osmose do interesse
político com o interesse privado, o apadrinhamento, o carreirismo político, a
desigualdade política, a desigualdade entre os direitos dos recursos humanos do
setor público e do setor privado, o aparelhamento do Estado.
E o senador tem certeza de que a Agenda Nacional, agora proposta, constitui
o universo de matérias que o Povo Brasileiro quer discutir atualmente, para
transformar em sua norma de conduta? Não. Ele não tem:
“Posso dizer que a prática para trás do governo mostra que ele errou, a
prática para frente a gente precisa dar o benefício da dúvida, do bom senso, eu
sou um otimista.”
Ora, em democracia, e Democracia de nossa Constituição, o Povo se
governa, consoante o Preâmbulo (“Nós, representantes do povo brasileiro...”) e
o parágrafo único do artigo 1º (“Todo poder emana do povo, que o exerce por
meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.”) Entendo, pois, que os representantes do Povo SÓ PODEM FORMATAR LEIS QUE ENTENDAM SER A
VONTADE DO POVO.
E a Constituição Brasileira diz exatamente como se pode obter facilmente
a expressão da vontade do Povo nesse parágrafo único do artigo 14, DIRETAMENTE:
“Todo poder emana do povo, QUE O EXERCE por meio de seus representantes eleitos
ou DIRETAMENTE...”). E no artigo 14, ela discrimina as três formas de expressão
direta da vontade do Povo:
“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e
pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante:
I - plebiscito;II - referendo;
III - iniciativa popular.”
Acho que essas formas “referendo e plebiscito” seriam muito apropriadas
para ocasiões de graves insatisfações sociais e políticas, como a que ora
estamos vivenciando. Elas diferem radicalmente de meras manifestações de
opinião de determinadas pessoas e lideranças em audiências na Câmara e no
Senado. Aquelas, plebiscito e referendo, são realmente democráticas,
manifestação do Povo Li nos jornais que a Islândia, em 2009, numa situação de
grave crise econômica, aprovou por referendo particular cada artigo de uma nova
Constituição. Nos Estados Unidos, usa-se com frequência os institutos do
referendo e do plebiscito. No começo deste ano, na Suíça o Povo, em referendo,
recusou um salário mínimo proposto pelo Governo.
Aqui, no Brasil, os representantes do Povo só deram oportunidade à
expressão direta da vontade do Povo, na opção da forma de governo
(Presidencialismo/Parlamentarismo), um imperativo constitucional transitório, e
na questão de armas, se não estou enganado. Essa evidente atitude governamental
de obstruir o exercício do direito constitucional da manifestação direta da
vontade popular permite nasça a especulação de que ela é temida, de que se
queira obstá-la e, portanto, de que se estaria impedindo o autogoverno do Povo.
A Democracia estaria sendo boicotada. Acho até que a nossa Constituição deveria
ter sido aprovada por um referendo popular em 1988.
Na minha opinião, o Povo está querendo muito mais do que o
ilustre senador Jucá está dizendo. O Povo está querendo total reformulação do
Governo Brasileiro, que de fato ele se guie pelo caput do artigo 37 da
Constituição: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (Nova redação dada pela EC nº 19, de 1998)”.
O Brasil, na minha opinião, está
ingressando na Idade da Informação. Nessa Idade tudo se sabe, tudo é
transparente. Até os segredos de Estado vazam. A publicidade é um fato, não
apenas um direito. Assim,
- se o Legislativo não fizer leis justas, de
fato iguais para todos, o Povo acaba com o Legislativo;- se o Executivo não obedecer a lei, o Povo acaba com o Executivo;
- se o Judiciário não prolatar sentenças legais, o Povo acaba com o Judiciário.
O Povo não aceita a política maquiavélica. O
político precisa viver o que diz para o Povo. O político tem que ser a
expressão do Povo. A política precisa ser transparente. O político precisa ser
igual ao Povo. Frequentar o restaurante que o Povo frequenta. Vestir as roupas
que o Povo veste. Usar o carro que o Povo usa. Morar na casa que o Povo mora.
Usar o hospital que o Povo usa. Frequentar a escola que o Povo frequenta. O
político não pode usar a política para escapar do tipo de vida que o Povo vive.
O político não pode mais ser esperto. O político não é dono, feitor do Povo. O
político é o criado do Povo. O político precisa ser igual ao ex-Presidente
Mujica, do Uruguai.
Democracia é liberdade, igualdade política,
transparência, verdade e convivência.
Estamos assistindo a uma síntese hegeliana: a
Idade Moderna transformando-se em Idade da Informação. Que essa síntese se
processe pacificamente.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDileto amigo Edgardo,
ResponderExcluirCumprimento-o por mais este brilhante artigo. E também por sua clarividência de notar o surgimento da "Idade da Informação". Bravo !!!!!
Estimadíssimo amigo Juarez
ResponderExcluirQuanta saudade de você! Como faz falta o seu diálogo! A vida é convivência. A boa convivência é a vida feliz. É o que se tem e o que vale!
Um abraço amigo do
Edgardo