terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

30. Moacyr, Meu Amigo!


A notícia explodiu-me no espírito, fulminante e devastadora, como aquelas superbombas modernas e teleguiadas que a mídia nos exibiu recentemente. A mortalha do pesar envolveu-me escura e suja como o fog que rouba à terra a claridade. Essa notícia não esperava ouvi-la nem queria jamais tê-la ouvido. Ela me levou às lágrimas, homem que sou calejado nos embates da existência, ao longo de quase um século de primaveras e outonos. Revisitar São Luís estava em meus planos imediatos, entre outros motivos para rever meu neto, meus parentes e meus amigos e, dentre estes, Moacyr e Frazão, especialmente. Como é deliciosa a convivência com amigos verdadeiros, trocar informações pessoais e recordar o passado que se compartilhou numa atmosfera de cumplicidade divertida!...
Moacyr vive em muitas páginas de minha existência, movimentando-se na paisagem linda da ilha de São Luís, regada pelas águas do Anil e do Bacanga, deitada nas areias brancas e cintilantes das praias infindas, contemplando o mar azul e bravio sem limites.
Mal se pode imaginar o jovem Moacyr, ágil, comunicativo e simpático, como burocrata dos Correios! Espírito inteligente, operoso e criativo, inicia a realização de seu projeto de se tornar empresário, investindo a primeira poupança na aquisição de uma carrocinha de sorvetes, refrescos e sanduíches que vendia pelas ruas e praças do centro da cidade. Relembro-o pioneiro do marketing eletrônico, percorrendo os logradouros e ruas da capital numa camioneta equipada de alto-falante que adquirira com recursos próprios e empréstimos de amigos que acreditavam no seu sucesso, como meu pai, Francisco Aguiar, que vaticinara: “Moacyr, queiram ou não, ainda serás alguém no Maranhão”. Foi por muito tempo sensação nos meios radiofônicos e posteriormente na televisão da cidade como cantor e apresentador de programas de calouros, dando oportunidade a figuras maranhenses de relevo na música popular brasileira de hoje. Tornou-se pequeno comerciante atacadista de produtos agrícolas e estabeleceu-se com um sítio no Anil, comprazendo-se em desfilar montado em garbosos cavalos. Investiu em terrenos e fez loteamentos, onde abriu restaurante para atrair potenciais compradores com seu canto, seu violão e sua exuberante simpatia. Minha esposa, quando lá aparecia, era acolhida com mesuras de vassalo que, curvado, lhe beijava o dorso da mão, sem faltar a lisonjeira saudação: “D. Alina, a senhora é a reserva moral do Maranhão!” Consolidou-se como prócer no ramo hoteleiro do Maranhão. Políticos, empresários e intelectuais ufanavam-se de sua amizade e ouviam dele atentamente as mensagens que guias espirituais lhe confidenciavam.
Era um prazer receber Moacyr nos escritórios de Francisco Aguiar, na Av. Pedro II, defronte do Palácio dos Leões e da Prefeitura. Entrava resoluto, confiante e falastrão, repleto de informações e de humor, sempre de ânimo elevado. Vez por outra aqui no Rio, a satisfação se renovava através de nossas conversas telefônicas ou nas poucas ocasiões em que tive a oportunidade de obsequiá-lo com meus préstimos amigos durante suas raras estadas nesta cidade.
Não o encontrarei mais no Panorama Pálace Hotel, “o melhor três estrelas do Brasil”. Místico, como poucos, ele assegurava com aquela fé e verve que o caracterizavam: “Quem se hospeda no Panorama Palace Hotel tem sorte nos amores e nos negócios, a ajuda de Deus, dos bons guias de luz e de Iemanjá, durante seis meses.”
Assim foi o meu amigo, Moacyr Neves. Um dos grandes vultos da História de São Luís. O Maranhão acaba de sofrer perda irreparável. O reino dos espíritos, de quem foi ele tão familiar na terra, levou a melhor. Aqui, ficamos tristes. Lá, deve estar ocorrendo festa inenarrável. Daqui o amigo se ausentou. Lá, amigo muito especial chegou. Amigo Moacyr, ver-nos-emos um dia outra vez!
(Escrito e publicado no ano de 1994, a pedido de meu sogro, Adhemar Maia de Aguiar)

Um comentário:

  1. Olá. Cheguei a seu blog ao buscar por informações sobre o Panorama Palace. Meu nome é Marcos Caldas, sou ilustrador. Meu pai, Raimundo Nonato, trabalhou por décadas com o senhor Moacyr Neves, por último como chefe de recepção do Panorama. Durante a infância, eu frequentava o hotel sempre, quando ia visitar meu pai no trabalho ou nas festas de fim de ano para os funcionários. Nossa casa no Conjunto Vinhais, foi conseguida com ajuda de Moacyr Neves que intercedeu para que vários funcionários fossem incluídos no sorteio daquele projeto de habitação. Atualmente, estou trabalhando em uma história em quadrinhos que tem como cenário São Luís na década de 80, mais precisamente 1986, um dos cenários da história é o Panorama, onde dois personagens estão hospedados. Pretendo retratar meu Pai recepção e o senhor Moacyr em sua mesa no saguão onde ele conversava por horas com hóspedes e amigos. Para tanto gostaria de saber se o senhor possui algum registro fotográfico particular desse período ou de outro que mostre o interior do hotel. Possuo um postal antigo com foto da fachada, de uma suíte, e do escritório, mas estão em tamanho reduzido. As fotos seriam usadas para referência na produção dos desenhos e não seriam divulgadas. Lhe desejo saúde e de já agradeço a atenção.

    ResponderExcluir