terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

36. Ética, Economia e Política


Prezado amigo.
Não me julgue mal-educado nem mal-agradecido. Afazeres urgentes ocuparam-me de sorte tal que me impediram de até agora ter o prazer de agradecer-lhe o privilégio de receber seu muito bem lançado artigo sobre os males do governo federal.
Inspirado nos erros e maldades do governo, assesta de fato as baterias contra as realidades miseráveis e tristes da sociedade brasileira, porquanto a elite dirigente é oriunda do povo, por este eleita, constitui o que dele há de mais representativo, tanto que seus componentes são os legítimos representantes do povo!...
A pobreza e a ignorância no Brasil são sobretudo um caso matemático - aritmético ou de Geometria Analítica -, dependendo de que se prefira avaliar mediante simples divisão do PNB pela população ou através do mais sofisticado processo de conjunção das curvas da oferta e da demanda por trabalho, em ponto abaixo do nível de subsistência.
Nada obstante isso, torna-se impositivo que se exija da sociedade brasileira comportamento ético mínimo, indispensável para que exista convívio e colaboração, elementos constitutivos dos fundamentos da sociedade.
Note-se, porém, que o refinamento moral nunca foi a argamassa com que se construíram as sociedades humanas, nem as leis da santidade coincidem com as leis da riqueza. A rainha Elizabeth mandou matar inimigos sem escrúpulos e foi a grande beneficiária dos altos lucros das empresas que formou para explorar o tráfico internacional de escravos negros, cuja nau mais célebre ironicamente exibia o nome de Jesus!... Vasco da Gama, depois de assaltar no Oceano Índico um desarmado navio de peregrinos muçulmanos de volta de Meca para as Índias, mandou incendiá-lo juntamente com todos os tripulantes e passageiros, e subjugou Calicute mediante a exibição de um punhado de cidadãos que aprisionou, matou e esquartejou. Danton foi um requintado ladrão e Robespierre um dos maiores monstros sanguinários da História. Nos dias de hoje, um ministro alemão era amante de uma espiã russa. Vários primeiros-ministros japoneses foram corruptos. Deputados americanos beneficiaram-se com a importação de arroz da Coréia durante anos. Vários ministros franceses entraram em conluio para prestar tratamento médico clandestino na França a um líder muçulmano subversivo, procurado pelos governos europeus por chefiar a chacina de muitos cidadãos do Primeiro Mundo. Nunca houve tanta corrupção e violência contra cidadãos indefesos como na Rússia e demais países comunistas. A violência indiscriminada e amoral era lema para Lenin: “Prefiro matar cem inocentes a deixar escapar um único criminoso!” Em síntese, o moralismo à outrance jamais foi ambiente em que se desenvolveram as sociedades humanas. A História atesta que o desenvolvimento econômico se processou à margem do moralismo medieval cristão, entre cujas normas constava: “Mercator vix aut nunquam Deo placere potest!” (O negociante nunca ou raramente pode agradar a Deus), isto é, o negociante vai para o inferno!...
Nem se pode esperar que os governantes sejam vestais, quando a verdade está em que todos nós, como dizia Pascal, somos anjo e demônio, e grandes humanistas consagraram a frase famosa de Terêncio: “Nihil humani a me alienum puto”(Não me julgo estranho a qualquer coisa que seja humano). A Psicologia, por sua vez, ensina que 15% das pessoas são geneticamente inadaptáveis à sociedade!... A própria Zoologia constata que a sociedade dos camundongos, quando afetada pela superpopulação, se torna palco de violência! A violência, a miséria e a praga (cólera e outras) são a comprovação da tese maltusiana de uma sociedade em que a população cresce mais rapidamente que a produtividade.
Nada obstante, pode-se lutar por que os governantes se pautem pelo mínimo de decência e por que orientem o país e o povo para hábitos de vida que gerem coexistência pacífica e bem-estar social. Pode-se também esperar que o povo se aprimore e aprenda a eleger para o governo pessoas mais qualificadas ética e intelectualmente e que possuam elevado conceito de governo, instituição criada para proporcionar condições para que todos os cidadãos realizem os próprios projetos individuais com liberdade e sem sujeição a interferência de quem quer que seja, porque democracia não é o governo da maioria, e muito menos o da minoria, e menos ainda o dos trabalhadores, como pretendem os líderes sindicalistas brasileiros. Democracia é o governo de todos, no sentido de que cada um se governa e decide o próprio destino, cabendo ao governo limitar-se a decidir exclusivamente no tocante ao que eu chamaria, em sentido lato, os bens públicos. Quanto menor o espaço governamental, mais democrática é a sociedade. Quanto menor o governo, mais livre é o indivíduo e menos escravo, porque o governo é sempre uma minoria impondo sua vontade sobre a totalidade da população!
É por isso que não ouso votar em pessoas desqualificadas pelo saber, porque desprovidas da cultura que fornece o material com se forma a verdadeira sabedoria. São pessoas dotadas do dom da comunicação social e ajustadas à mentalidade dominante em seu meio, como Antônio Conselheiro e John Ball e tantos outros fenômenos de liderança popular, mas sem a capacidade de crivo ideológico. Quantas teses ingênuas e até mesmo trágicas de líderes brasileiros atuais já ouvi na televisão! Um assevera pomposamente que salário não é renda, que a riqueza é produto exclusivo do trabalhador e (regozijem-se Hitler, Mussolini, Stalin, Mao e outros tiranos) que o indivíduo é para a sociedade!... Outro ousa afirmar na Câmara dos Deputados que os pobres podem ter quantos filhos quiserem, porque o sustento e a educação deles são responsabilidade do Estado!... Mal imagina ele que a maior ameaça ao meio ambiente é a superpopulação que nunca foi tão iminente e tão explosiva na História. Mal imagina ele que povo pobre e ignorante não pode ter governo rico e esclarecido!
Cabe a nós a classe mais instruída da sociedade conquistar a confiança do povo, mostrando o absurdo dessas teses ingênuas, e conduzi-lo para o destino glorioso que se acha programado nos arcanos de possibilidades guardados no seio recôndito de nossa terra!
Não há alternativa: o caminho do resgate da pobreza consiste na acumulação de capital (é tese de Marx); e a acumulação de capital numa sociedade de homens livres se realiza numa conjuntura de estabilidade econômica; e a estabilidade econômica só se obtém, quando a economia se deixou hiperinflacionar, através do retorno às fronteiras das possibilidades reais da produção, eliminando-se as excitações oníricas de uma riqueza inexistente. O Brasil é um país pobre. Um país pobre só acumula riqueza com muito sacrifício, muita sabedoria, muita decisão, muita persistência e nenhuma leviandade.
Estou com você: precisamos de moralidade governamental. É fundamental! Mas, urge também que o povo entenda que ele é que deve salvar-se construindo sua riqueza com lágrima, suor e sangue. O Millor já disse: “Quem precisa de salvador não merece salvação!”
(Escrito no ano de 1991)

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