quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

45. O Sonho da Dinastia de Avis (continuação)


Os primeiros onze dias da história do brasil

Os portugueses gastaram os três dias seguintes reconhecendo a região, procurando um ancoradouro seguro e abastecendo de água a frota. Mantiveram amistosos contatos com alguns dos pardos habitantes daquele belo rincão, que estranhamente se apresentavam desnudos com a maior naturalidade e falavam idioma desconhecido. Encontraram um porto grande, formoso e seguro na atual Cabrália.
No dia 26 de abril, domingo, os índios assistiram à primeira missa celebrada no Brasil no ilhéu da Coroa Vermelha. À tarde, quando a maioria dos portugueses, inclusive Cabral, desceram à terra, os índios a eles misturaram-se. Divertiram-se com as brincadeiras de Diogo Dias e dançaram ao som de suas músicas. A confiança mútua foi-se consolidando a tal ponto que os índios já se locomoviam desarmados pela praia em companhia dos forasteiros. Levaram os estrangeiros às suas choupanas onde lhes provaram a comida. Mostraram-se pasmos com os machados utilizados pelos portugueses no corte de árvores. No último dia de abril, agora às centenas, participaram de nova festa ao som da música de Diogo Dias, um ídolo para eles.
Os forasteiros construíram uma grande cruz que, fincada na praia no dia seguinte, significaria a posse lusa sobre a terra. Numerosos índios misturaram-se à tripulação da frota que na manhã do dia 1º de maio desceu à praia para assistir à missa. Participaram da procissão que conduziu a cruz até o local do ato religioso, ajudaram a carregá-la e acompanharam a missa imitando os gestos piedosos dos portugueses.
Os recém-chegados foram tomados de grande admiração pela região descoberta. Experimentaram sentimentos de simpatia pela gente singela, desambiciosa e primitiva que nela encontraram. Ficaram perturbados com sua nudez, sobretudo com a das mulheres, tão asseadas e tão gentis. Na noite do dia l°, dois marinheiros fugiram numa canoa, fascinados com a nova terra e a nova gente.
Naqueles poucos dias, ocorreu um choque entre duas culturas tão diferentes que conviveram numa diminuta praia pela primeira vez. Aquele povo era diferente de tudo o que os portugueses haviam conhecido nos quase cem anos de exploração marítima: a cor, o idioma, parecia desambiciosa, sem necessidade de trabalhar, saudável, sem malícia, sem chefe, sem lei e sem religião. Nada tinha que se assemelhasse aos chefes africanos e muito menos aos rajás da Índia. Essa observação evoluiria para a teoria da bondade natural do homem de Rousseau.
No dia 2 de maio de 1500, a frota zarpou de Cabrália. Onze naus rumaram para a Índia. A nave de mantimentos retornou a Portugal levando a notícia da descoberta da ilha da Vera Cruz para o rei e transportando produtos da terra, entre os quais papagaios e troncos de pau-brasil, e dois índios. Estes, mais que os papagaios, provocaram admiração na corte. O rei mudou o nome para Terra da Santa Cruz. Passou a ser conhecida, porém, como Terra dos Papagaios. O interesse comercial fixou-lhe o nome de Brasil.

(continua)

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