quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

37. Mensagem aos Colegas (18/02/09)


Ontem, os veículos de comunicação informaram que na segunda-feira, dia 16 do corrente mês, um grupo de pessoas, sob a liderança de personalidades dos movimentos sociais e sindicais do Estado de Alagoas, invadiu o prédio da Assembléia Legislativa daquele Estado, e está exigindo a cassação de deputados acusados de corrupção, há já dois anos, e sem conclusão de julgamento nos tribunais do País, eleição de 27 deputados, e discussões públicas sobre educação, saúde, habitação e gastos públicos.
O século XVIII assistiu à revolução das liberdades individuais, o século XIX à revolução industrial, o século XX à revolução tecnológica e o século XXI, acredita-se, assistirá à revolução social ou, até mesmo, ao aparecimento da nova espécie humana. E o que temos a ver com isso? Tudo.
No segundo semestre do ano passado, falei que já se inventara um colar para captar e transmitir para o telefone celular ou para o monitor de um computador o pensamento dos surdos. Não é de se estranhar que, no futuro, os homens usem aparelhos que captem os pensamentos uns dos outros. Acabar-se-á a privacidade, o segredo. Ninguém poderá impunemente maquinar no recesso de sua mente a desgraça de outrem ou da Humanidade. Tudo será às escâncaras, o comportamento e o pensamento. Mas, dir-se-á, isso está muito distante. Será? O primeiro transplante de órgão, um rim, foi feito pelo médico norte-americano Joseph Murray em 1954, isto é, há apenas 55 anos (acho que todos nós aqui já éramos nascidos, e há muito tempo, em 1954). O primeiro transplante de coração ocorreu há 42 anos na África do Sul. Hoje há até quem viva com um coração cibernético (há já seis meses) à espera de um transplante do coração. Hoje já se fazem transplantes de todos os órgãos, exceto o cérebro, em todas as capitais do Brasil e nas grandes cidades dos Estados mais adiantados. Ah! Hoje, pega-se um notebook qualquer, posta-se na vizinhança do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal de Justiça ou de uma empresa qualquer e ouve-se tudo o que pretensamente se está falando em segredo!... Por isso, acho que a grande revolução que se está iniciando, a revolução social, ou até mesmo o aparecimento da nova espécie humana, não vai demorar muito.
Reflitam sobre a nova e estupenda invenção do Homem. Não lhes vou falar sobre o novo supercomputador que os norte-americanos começaram a produzir, doze vezes mais potente que o mais potente supercomputador em funcionamento atualmente. Isso nem é mais tecnologia do futuro é tecnologia do presente. Falando em terminologia marxista (que também já é passado) seria a tese (fim do passado) que já deve estar sendo substituída pela antítese (começo do futuro) que produzirão a síntese (o futuro). No tempo do processo que é a existência, tese e antítese constituem o presente, a síntese é sempre passado ou futuro.
Vou-lhes falar, isso sim, de uma experiência física absolutamente inédita, realizada pelos norte-americanos nos últimos tempos. Todos os corpos se deslocam num espaço contínuo: os animais terrestres, os peixes, as aves, o Homem, os automóveis, os navios, as aeronaves e até as espaço- naves. O Homem acaba de realizar uma nova façanha na área dos deslocamentos. Era um sonho da ciência Física não simplesmente empurrar um corpo de um lugar para outro, não simplesmente fazê-lo dar um salto. O Homem pretendia fazer com que um corpo (uma quantidade de massa) desaparecesse do lugar onde estava e aparecesse noutro lugar, por exemplo, eu desaparecesse do Brasil e surgisse no Japão. O homem acaba de fazer isso com um elétron, no mundo subatômico, é verdade, em dimensões insignificantes para o mundo real da nossa experiência diária, mas em dimensão significativa para as distâncias do mundo subatômico, ainda que, é verdade, muito reduzida. Mas, já conseguiu realizar essa proeza. É o início. Imaginem nós os homens, num futuro que não se pode ainda vislumbrar, desaparecer do Rio de Janeiro e aparecer nos maravilhosos hotéis de Dubai!... Os capitalistas e negociantes vão enlouquecer...
Insisto: e o que isso tem a ver conosco, funcionários do Banco, aposentados e pensionistas da Previ, e associados da Cassi? Tudo.
Nós estamos vivendo numa sociedade, cujo estilo de organização já se está acabando, e não estamos percebendo que o processo existencial nos está deixando para trás. Nos países desenvolvidos não há mais segredo com relação a salários. Os manuais de organização de empresas insistem que importante para a produtividade e para o sucesso é a satisfação dos empregados, a comunicação e a interação entre todos os agentes de produção de uma empresa. A gigantesca crise financeira, que vivemos, ensinou que não mais se podem aceitar sigilos, ambientes de lusco-fusco, nas associações e empresas. Ela também ensinou que não se pode aceitar a desbragada remuneração de uns poucos às custas da exploração remuneratória de muitos. Ela ensinou que não podem existir paraísos fiscais, onde os banqueiros podem fazer o que bem entendem, sem normas que rejam as atividades bancárias e sem fiscalização. Ela ensinou que, para o bem e para o mal, o planeta Terra agora é um espaço comum, contínuo, sem divisórias, único.
Para mim, a grande lição desta crise consiste, em resumo, no significado expresso nestas duas palavras: consenso mundial. Essa é a igualdade do futuro, a aceitação da diversidade, a convivência da diversidade, a diversidade argamassada numa humanidade solidária através do entendimento, sem qualquer concessão à arbitrariedade e à violência. A violência organiza a sociedade pela coação, pela extinção do outro, da diversidade, da pluralidade. Poderia mesmo dela resultar, porventura, alguma associação, alguma sociedade? Ou a sociedade é fruto do entendimento entre os diversos, entre os plurais, que partem do princípio fundamental de que nela todos são iguais? Não pode existir hegemonia do país militarmente ou economicamente mais poderoso. Aliás, a ONU foi criada, há quase sessenta anos, sob essa idéia da formação do consenso universal mundial. Infelizmente, ela foi organizada segundo a concepção da época, segundo a qual, algumas nações detinham mais direitos que outras. Mas, quem entrará satisfeito e pacificamente numa sociedade ou associação, aceitando que o outro pode mais? Só aceito estar em sociedade e associação em que todos mandam e todos obedecem, em que todos trabalham e todos usufruem, em que todos têm os mesmos direitos e todos têm os mesmos deveres.
Não posso aceitar que uns poucos do Governo mandem em mim. Para mim, Governo é um conjunto de mandatários meus, não de representantes. Mandatários fazem o que nós mandamos. Como aliás disso se vangloriava Atenas na voz de Péricles: sou livre porque não obedeço a outro homem, mas me submeto somente à Lei que eu faço. Não posso admitir que uma maioria mande em mim, porque sou livre e quero permanecer livre em qualquer associação ou sociedade de que participo. Só posso admitir a Lei que eu, juntamente com todos os outros cidadãos ou sócios, a fizer. Não aceito maioria mandando em minoria. Há algo fundamentalmente podre na democracia da maioria. Minoria, evidentemente, não pode ter o comando de uma associação. Mas, que minoria ingressará numa associação onde ela será massacrada pela maioria? A Lei, e só ela deveria ser o Governo, deve ser formulada por todos, através do debate, num consenso final, numa aprovação por todos. Não num gesto de submissão, de derrota. Mas, num gesto do triunfo da inteligência, do conhecimento, do respeito, de reconhecimento e exaltação do bem comum. Por isso, nação e associações não deveriam gerar as suas normas através de processos que estimulem, já no nascedouro, a divergência e a oposição. É triste e trágica a existência de partidos. Isso é sinal de barbarismo. O homem civilizado é apartidário. Ele é essencialmente solidário. Nada na sociedade e na associação pode brotar de força desagregadora. Tudo nela tem que brotar da argamassa da força agregadora, niveladora. Tudo tem que ser revisto. Tudo vai ser revisto, no mundo futuro, numa sociedade do conhecimento, onde tudo será claro, iluminado, transparente.
Temos muito que fazer nas nossas associações Previ, Cassi, AAFBB, ANABB, AAPBB, etc. Vamos fazer dessas associações, associações realmente de parceiros, de iguais, de consenso no bem comum. Vamos começar por dois processos: o processo da eleição dos corpos administrativos, sem partidos, sem propaganda, através da indicação de mandatários, por escolha livre de todos os sócios daqueles em quem eles confiam, que eles através do debate e do consenso identificarem como os que devem ser investidos do mandato de administração; e que o índice de reajuste dos benefícios na Previ se torne flexível, de modo que se adotem diferentes níveis de reajuste, em consonância com o nível da atividade econômica ao longo do tempo, alto, baixo e até negativo, e a eles devidamene ajustados. Isso eliminará o risco de ruína dessas instituições, ao mesmo tempo que na Previ acabará praticamente com a esdrúxula fabricação de superávits. O mundo de transparência, de interesse coletivo, de respeito é o meio ambiente em que brota espontaneamente a convivência, que se alça em solidariedade, que dá nascimento ao consenso, a única argamassa possível de uma associação de indivíduos livres, iguais e dignos.

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