quinta-feira, 30 de abril de 2009

107. Xamãs em Brasília


Andreas Lommel diz que o xamã é um tipo especial de indivíduos existentes em certas tribos primitivas. O xamã é simultaneamente sacerdote, médico e artista. É dotado de telepatia, clarividência, desaparecimentos e reaparecimentos misteriosos. É um homem doente. Sofre de perturbações psicóticas ou epilépticas. Padece de psicose progressiva. Os xamãs são grandes artistas: cantores, dançarinos, decoradores, pintores e escultores. São comparáveis às figuras mais representativas da arte dos tempos históricos. Produzem suas obras em estado de transe auto-induzido, em êxtase.
Riqueza é produção. Mas é produção abundante em comparação com a população. Se a população brasileira aumenta em dez milhões de pessoas num triênio e o investimento cai de 22% para 16% do PIB, a produção relativa decresceu. A população empobreceu. Nenhum decreto fará o salário aumentar realmente, porque o salário é a parcela da produção que cabe a cada trabalhador.
Esse crescimento demográfico corresponde a uma Bélgica, a mais de uma Áustria ou Suécia, a quase duas Suíças. É absurda condicionante econômica para país rico, quanto mais para país pobre.
O processo de produção é também o processo de distribuição de riqueza. São indissociáveis. Terra, capital e mão-de-obra produzem. E ao longo do processo da produção, cada um se apropria da parcela do produto que lhe cabe. Stuart Mill chegou a afirmar que excepcional importância da mão-de-obra poderia fazê-la assumir parcela do produto muito superior à do capital. Nos Estados Unidos cerca de 80% da produção vão para a mão-de-obra. Mais necessário o capital, maior o lucro. Mais necessário o trabalho, maior o salário.
Esses são princípios da ciência e do bom-senso. Não posso crer que em Brasília se assentaram xamãs que seriam artistas bastante para anulá-los mediante a prestidigitação e artigos da Constituição que dobram salários e reduzem horas de trabalho. Nesse caso, seria mais simples e mirabolante produzir a mais revolucionária e progressista Constituição em tempo e dimensão recordes, porque formada de um único artigo: “O cidadão brasileiro tem o direito de ser rico sem trabalhar”.
Os xamãs brasileiros revelariam mais uma vez ao mundo que a pobreza é mera criação convencional. Abissínia e Moçambique aprenderiam então como é simples eliminar a chocante imagem de mulheres e crianças esquálidas morrendo de inanição.
Mas, os xamãs são líderes de sociedades subdesenvolvidas, primitivas!... E a classe política existiria numa sociedade de ricos?
(Publicado no "Jornal do Empresário", São Luís, Maranhão, em 18.11.87)

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