segunda-feira, 20 de abril de 2009

97. Oitva Economia Mundial


O ufanismo é característica do cidadão brasileiro. Nos últimos doze anos, o ufanismo vem-se expressando na assertiva de que o Brasil é a oitava economia mundial. Essa afirmação já traz implícita certa restrição que não vem ao caso aprofundar: oitava economia do mundo ocidental, ou dentre as nações capitalistas, ou de livre mercado.
Isso quer significar que o Brasil é grande produtor de bens e serviços ou, como dizem os economistas, que o Brasil tem um grande produto nacional bruto (PNB), isto é, o Brasil anualmente produz grande quantidade de bens rurais e industriais, bem assim de serviços tais como os comerciais.
Apenas sete países capitalistas produzem anualmente mais que o Brasil: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Canadá. Produzem menos que o Brasil nações ricas como Suíça, Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Áustria e Bélgica. Em 1985, os Estados Unidos produziram US$4 trilhões, o Japão US$ 1,3 trilhão, a Alemanha US$ 624 bilhões. O Brasil produziu US$ 219 bilhões, mais que a Suíça (US$ 97 bilhões), a Holanda (US$ 122 bilhões) etc.
Realmente admirável é essa realização do povo brasileiro. O ufanismo constitui, porém, visão econômica parcial que pode gerar noções políticas equivocadas e, portanto, conseqüências sociais perigosas. Pode-se concluir que o Brasil é um país rico e que a pobreza da grande maioria do povo brasileiro é resultado da exploração de quase todos os brasileiros por uns poucos, mancomunados com estrangeiros gananciosos e inescrupulosos.
O Brasil tem, de fato, relativamente elevada produção de bens e serviços. Mas, nem por isso é um país rico. Diz-se que riqueza é produção. Só que é produção do que tem valor e em quantidade alta com relação à população que a origina e, sobretudo, que a consome. Riqueza é nível de poder de consumo. É padrão de vida sustentado.
Nos Estados Unidos, 115 milhões de pessoas produzem anualmente US$4 trilhões para sustentar 239 milhões de residentes. Cada trabalhador americano produz anualmente US$35 mil que divide com outro residente, resultando US$17,5 mil para o consumo anual de cada residente. No Japão, 60 milhões de pessoas produzem anualmente US$1,3 trilhão para sustentar 120 milhões de residentes. Cada trabalhador japonês produz anualmente US$22 mil que divide com outro residente, resultando US$11 mil para o consumo anual de cada residente. No Brasil, 52 milhões de pessoas produzem anualmente US$219 bilhões para sustentar 136 milhões de residentes. Cada trabalhador brasileiro produz US$4 mil que divide com quase dois outros residentes, resultando US$1,6 mil para o consumo anual de cada residente.
Constata-se, pois, que o trabalhador brasileiro é muito menos eficiente que o trabalhador americano ou japonês, tem maior ônus de dependente e, por isso, é pobre, enquanto o americano e o japonês são ricos. O trabalhador brasileiro sofre as privações da pobreza. O trabalhador americano e o japonês arcam com as restrições mínimas da condição atual do indivíduo humano.
Entende-se agora como muitos países, que não se ufanam de sua privilegiada classificação no concerto da economia internacional, podem vangloriar-se da riqueza que possuem. Na Suíça, 3 milhões de pessoas produzem anualmente US$97 bilhões para sustentar 6 milhões de residentes. Cada trabalhador suíço produz anualmente US$32 mil que divide com outro residente, resultando US$16 mil para o consumo anual de cada residente. Na Suécia, 4 milhões de pessoas produzem anualmente US$100 bilhões para sustentar 8 milhões de residentes. Cada trabalhador sueco produz anualmente US$25 mil que divide com outro residente, resultando US$12,5 mil para o consumo anual de cada residente.
O Brasil é um país pobre e continuará pobre por muito tempo. Cada brasileiro deve conscientizar-se dessa realidade e tratar de redimir-se da pobreza. Essa redenção só se consuma através do investimento. E investimento representa sacrifício presente de consumo para se construir maior poder de consumo, mais alto padrão de vida.
Alfred Marshall impressionou-se tanto com a lentidão do processo de acumulação de capital que no frontispício do segundo volume do seu livro “Princípios de Economia” estampou a frase “Natura non facit saltum”. Wassily Leontief em 1984 declarou que “O Brasil terá de fazer como os Estados Unidos fizeram a partir do século passado: um desenvolvimento contínuo, mas lento”.
Parece-me errôneo e perigoso acenar ao povo brasileiro com padrão de vida que não tem condições de galgar tão cedo. Não se iludem impunemente as massas. As expectativas irrazoáveis, criadas talvez para granjear o suporte popular, engendram forças reivindicatórias que, insatisfeitas, se orientam incontrolavelmente contra a ordem social. A correta marcha para o progresso passa por um classe política esclarecida na ciência econômica, já afirmou Paul Samuelson.

(Artigo publicado no jornal "A Libertação", Parnaíba-PI, no dia 22.10.1986)

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