domingo, 12 de abril de 2009

90. Malthus


Ontem recebi a visita de um líder comunitário de importante bairro do Rio. Defende o padrão de vida do carioca contra a corrupção do Governo e a especulação do empresário capitalista.
Apesar de tudo isso, advoga a permanente e minuciosa intervenção estatal na defesa dos privilégios dos que já se assentaram na Zona Sul do Rio e já a poluíram. Quer que o Governo, ou melhor, a comunidade, empregue sua riqueza e sua renda em benefício do privilégio dos primeiros ocupantes. Clama pela repressão estatal contra os que agora chegam, que não são apenas os que agora vêm de fora, mas os que aqui nascem e são mais cariocas do que muitos desses líderes e reacionários. Negue-se aos outros o direito de morar junto às praias do Rio, porque nós as ocupamos antes! E, seja-se igualmente lógico, universalizando-se o princípio: nenhum brasileiro tem mais o direito de morar, porque é proibido poluir qualquer praia e mata no Brasil!...
Diante dele, cheguei à conclusão de quão premonitório e mais profundo foi Malthus, em suas teorias demográficas contra o otimismo anarquista de William Godwin e o otimismo comunista de Condorcet. Parece-me evidente o princípio da composição ótima entre terra, capital e população. O crescimento demográfico até certo ponto é ótimo, enquanto regido pela lei dos rendimentos crescentes. A partir desse máximo, funciona a lei dos rendimentos decrescentes, quando o crescimento demográfico passa a ser um mal.
O problema básico do Rio e do Brasil não é tanto o da ineficiência, corrupção e nepotismo do Governo. É, antes de tudo, a inexistência de paternidade e maternidade responsáveis. É irresponsável quem coloca no mundo um ser humano que sabe não ter condições razoáveis de subsistir bem. Não pode lançar sobre os outros, isto é, sobre a comunidade, o problema dessa sobrevivência. Não pode reclamar direitos sociais. A sociedade é que está sendo atacada. A paternidade irresponsável não é um direito. É um crime. É um atentado à sociedade. É contra o nascituro também, que não pode ser consultado sobre se deseja viver despreparado, no mundo em que é jogado. Nos nossos dias, os controles preservativos da natalidade não mais são desumanos.

(Publicado no ano de 1986)

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