terça-feira, 7 de abril de 2009

85. O Atentado


Sociedade é harmonia. É cooperação voluntária. Sem paz não há sociedade. A violência é anti-social. O mais importante instrumento do organismo social é o Estado. O Estado é o instrumento da sociedade para coibir a violência do indivíduo contra o indivíduo. Ao Estado compete também defender-se contra a violência do indivíduo. Só o Estado pode deter o poder de coerção. A nenhum indivíduo ou grupo de indivíduos é atribuído esse poder. Nem lhes é permitido deter poder de emulação com o Estado ou de desafio ao Estado. Condenamos, por isso, qualquer ato de afronta e desrespeito ao Presidente da República.
Mas, adotado o intervencionismo econômico, torna-se difícil evitar a reação violenta dos indivíduos contra o Estado. Quando o Estado abusa do poder de coerção e se devota a misteres dirigistas da economia, mesmo que seja em nome do bem-estar e da justiça social, o Chefe de Estado se torna responsável por tudo o que de bom e de mau acontece aos indivíduos. O indivíduo deixa de ser responsável pelo seu destino. Bernard Shaw sentenciou: “O governo, que rouba de Pedro para dar a Paulo, pode, via de regra, planejar com o apoio de Paulo”. Permito-me aditar: sob renhida oposição de Pedro.
Em geral, os indivíduos não reconhecem o bem que lhes proporciona o governo e lhe guardam rancor e até ódio pelo mal que lhes causa. O locador culpa o Chefe de Estado pelo baixo aluguel e o locatário o culpa pelos altos aluguéis novos e pela falta de moradia. Os produtores rurais e industriais responsabilizam o Chefe de Estado pelo desestímulo dos preços congelados e os consumidores o responsabilizam pela escassez de mercadorias. Os investidores atribuem ao Chefe de Estado o descumprimento das promessas feitas sobre a renda da poupança e os banqueiros lhe atribuem a aplicação arbitrária e discriminatória do deflator. O empresário imputa ao Chefe de Estado a falência e o operário lhe imputa o salário mínimo insatisfatório e o gatilho desarmado.
O Chefe de Estado intervencionista é o responsável pessoal e único por todas as insatisfações, frustrações e insucessos econômicos dos indivíduos. É o alvo pessoal de todos os ódios individuais. Não surpreende que o rancor extravase em manifestações de repúdio ao Chefe de Estado. É até possível o atentado. Só resta ao Chefe de Estado apelar para a repressão. O intervencionismo econômico deságua no Estado policial que inicia o caminho para a servidão.

(Publicado em 1986)

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