domingo, 8 de março de 2009

55. Mensagem a Meus Amigos (a pedido, continuação)


Por essa época, também, numa família real e numa cidade no sopé do Himalaia, nasceu Sidarta Guatama, que seria mais tarde conhecido como Buda, o Iluminado. Conta a lenda que a mãe o concebeu no momento de um sonho, em que Sidarta na forma de um elefante branco lhe penetrou pelo flanco do corpo tocando-o com a tromba. Nasceu tempos depois, ejetando-se da mãe, cintilante como uma jóia, quando esta, passeando nos jardins reais, estendeu o braço para colher um ramo de flores.

Em 1984, num hotel luxuoso de Tóquio, aonde fui em missão do governo brasileiro negociar uma linha de crédito para importações de produtos japoneses, época em que o Brasil sentia a repulsa da banca internacional inteira, ao deitar-me abri a gaveta da mesinha de cabeceira, e me deparei com o livro da vida de Buda, em inglês. Curioso, li na primeira página essa descrição do nascimento miraculoso de Buda e, como numa revelação, comparei-a com a minha familiar descrição do nascimento igualmente miraculoso de Jesus Cristo, nas bíblias cristãs...
Sidarta vivia isolado nos palácios da família. Quando já adulto saiu da moradia real, deparou-se com a velhice, a doença e a morte. Foi o início da sua iluminação. Abandonou a família, e, depois de tentado por Mara, o príncipe do mal, iniciou uma vida de ascetismo. Passados anos de ascetismo, sem que tivesse alcançado a iluminação, abandonou-o e sentou-se sob uma árvore, imóvel, aguardando a iluminação. Ele viu então que tudo é fluxo ininterrupto de seres, ele viu o samsara, sob a lei do carma, isto é, cada ato de bondade é premiado e cada ato de maldade é punido nesta vida ou noutra encarnação da alma.
Daí, o pessimismo budista: o nascimento é a origem de todos os males. Logo, a felicidade está em estancar o renascimento, em extinguir o samsara. Isso é possível atando a mente às coisas permanentes e liberando o coração dos desejos. Assim, você consegue a paz na quietude do Nirvana.
A partir de então, Buda consagrou-se a ensinar. Os ensinamentos resumem-se nas Quatro Verdades Nobres:
A vida é sofrimento, em virtude de carmas passados.
A razão desse sofrimento está nos desejos do conforto e prazeres materiais e mundanos.
Esse sofrimento pode acabar.
Ele acaba para quem se conduz pelo Nobre Caminho Óctuplo.
O Nobre Caminho Óctuplo:
O devido conhecimento: as Quatro Nobres Verdades.
A devida atitude: a atitude mental da boa vontade, afastando os desejos sensuais, ódio e malícia.
As devidas palavras: não mentir, não falar mal da vida alheia, não jogar conversa fora.
As devidas ações: não matar, não roubar e não cometer adultério.
A devida ocupação: não ganhar a vida prejudicando os outros.
O devido esforço: cultivar o bem.
Os devidos pensamentos: não ceder aos impulsos no pensamento, palavra, atos e emoções.
A devida compostura: aprender a concentrar-se a fim de conseguir a paz e alcançar a Iluminação.
Buda não negou a existência dos deuses, mas não os levava em consideração. Eles estão tratando dos seus interesses, nem são para ser temidos nem adorados. A finalidade da vida é o Nirvana. Nirvana é a consciência transformada, é uma realidade independente, é completamente diferente do mundo material, é o reino eterno, é o verdadeiro refúgio, é a libertação do carma, é o fim do sofrimento.
Entre 300 AEC e 300 EC, foram escritos os Sutras que se destinavam a difundir os ensinamentos védicos. Foram também escritos os épicos hinduístas, Ramayana e Mahabharata, que meditam sobre a luta entre o bem e o mal, o cosmos e o caos, que permeia a existência humana. Com o perpassar dos séculos, aquela tríade original cedeu lugar à tríade atual: Brahma, Vishnu e Shiva.
Já vimos acima quem é Brahma. Vishnu é o preservador de todas as coisas e o controlador dos destinos humanos. Ele se revela à humanidade através de encarnações. O Vishnu de cada encarnação é um avatar. Existem dez avatares. Buda foi um avatar. Outro avatar é Krishna, herói de muitos mitos, onde desempenha papéis de amante, guerreiro e rei. Krishna é também um deus com própria identidade. Shiva é a fonte do bem e do mal, destrói e recria a vida. É a divindade em que todos os opostos se encontram, compondo uma unidade fundamental. Nele se acha a atividade sem fim e o repouso eterno.
Dessa forma se formou o hinduísmo, conjunto de idéias milenares dos povos primitivos da região (os deuses e os rios sagrados), os Vedas (o permanente e o transitório; Brahma e o mundo sensível; o monismo e a multiplicidade dos seres; maia, a ilusão do sensível) e os dois grandes líderes, Mahavira e Buda. O hinduísmo, portanto, não tem fundador, nem credo, nem estrutura eclesiástica. O hindu pode ser monoteísta, politeísta ou ateu. Os hindus adoram deuses diferentes. Uns são vegetarianos, outros carnívoros. O hinduísmo comporta diversos cultos. Já se afirmou: "O hinduísmo não é uma crença única, mas uma federação de cultos e costumes, uma colagem de idéias e de aspirações espirituais. O hinduísmo é uma cultura, não é um credo. É a cultura da população daquela região da Terra, denominada Índia."
(continua)

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