terça-feira, 24 de março de 2009

71. A Soberba e a Lascívia


O Deus da primeira versão da origem do Universo logo revelou ao Homem que ele devia procriar: “E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei e subjugai a terra!”(Gen. 1, 28). O deus da segunda versão, porém, produziu tudo da terra, inclusive o Homem, para o Homem cultivar e guardar o jardim do Éden (Gen. 2, 15). Criou a Mulher como “auxiliar que lhe correspondesse” (Gen. 2, 20). O homem e a mulher eram caseiros de Deus. E lá adiante, no versículo 25 do mesmo capítulo, o autor esclarece: “Ambos estavam nus, o homem e a mulher, mas não se envergonhavam.”
O Homem e a Mulher eram ignorantes, não percebiam para que serviam os órgãos sexuais, não tinham libido, não copulavam, não procriavam, não eram deuses porque apenas cultivavam e guardavam o jardim do Éden, não produziam como Deus produz, não eram artífices como Deus é artífice.
E o que, um dia, eles, Homem e Mulher, primeiramente a Mulher, passaram a desconfiar? Eles entenderam que aqueles órgãos eram destinados à procriação. A serpente é a encarnação da curiosidade humana, da curiosidade feminina. Aquela conversa entre a Mulher e a serpente é o diálogo interior na mente humana de que falam os psicólogos. A curiosidade, o assombro perante a Natureza, é a mãe do conhecimento. Sócrates nos ensinou uma das poucas verdades universais, incontestes: o conhecimento é um processo perene, uma busca sem término.
E penso que a primeira e grande descoberta do Homem da segunda versão bíblica da origem do Universo residiu em descobrir o sexo. O grande pecado do Homem foi a soberba, ser como Deus, artífice, capaz de procriar tal qual Deus que tudo fazia germinar nos campos, nos rios e nos mares. Até aquele instante, o homem não conhecia o próprio corpo nem o corpo da mulher. Ele não conhecia para que serviam os órgãos genitais: “Ambos estavam nus, o homem e a mulher, mas não se envergonhavam.”(Gen. 2, 25). O intercurso sexual revelou-lhes que o Homem também produz e como é prazerosa a procriação: “Eis que o homem se tornou como um de nós, capaz de conhecer o bem e o mal.” (Gen. 3, 23)
E a partir daquele instante, o Homem passou também a acumular a sua cultura: “Abriram-se os olhos de ambos e viram que estavam nus. Teceram com folhas de figueira tangas para si.” (Gen. 3, 7)

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