terça-feira, 3 de março de 2009

50. A Profecia de Thomas Jefferson (conclusão)


4. Conclusão

Quando, na primeira metade do segundo milênio da Era Cristã, se deu a Revolução Comercial, o dinheiro se tornou importante. No século XVI, com o afluxo de ouro e prata do Continente Americano para a Europa, os europeus começaram a entender que muito dinheiro e pouco dinheiro era algo ruim. O dinheiro devia existir na quantidade adequada.
O Banco de Amsterdã, criado pela municipalidade da rica cidade comercial de Amsterdã, foi o primeiro instrumento de controle da moeda. Ele foi criado para eliminar a moeda ruim. No final do século XVII, a humanidade já sabia que os bancos, e não apenas o Governo, são criadores de dinheiro. O povo inglês criou, então, o Banco da Inglaterra para fornecer dinheiro para o Rei fazer a guerra. Logo ele se tornou o grande controlador da emissão de dinheiro através dos bancos na Inglaterra, o primeiro Banco Central a existir. Um século depois, a França seguiu o exemplo inglês e criou o Banco de França. Os países do mundo seguiram o exemplo da Inglaterra e passaram a criar, cada um, o seu Banco Central, para controlar a emissão de dinheiro pelos bancos. Os Estados Unidos tentaram por duas vezes, no final do século XVIII e no início do século XIX, fazer funcionar o Banco dos Estados Unidos. Fracassaram. A Revolução Industrial e a Urbanização estavam chegando aos Estados Unidos. O maior símbolo desse advento era Benjamin Franklin, o inventor e fabricante de papel-moeda. A Revolução Industrial e a Urbanização precisavam ser financiadas.
No século XIX, a adoção do padrão-ouro pela Inglaterra, e por muitos outros países em seguida, constituiu forma de controle da emissão de dinheiro pelos bancos e pelos governos. Os Estados Unidos somente em 1913 decidiu criar o Federal Reserve System para controlar a quantidade de moeda criada pelo sistema bancário. Em 1946, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, os países se reuniram para organizar as relações monetárias entre eles. Decidiram, então, criar instrumentos de normalidade da atividade financeira internacional: o padrão dólar-ouro, o FMI (o Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
Nos anos mais recentes, os governos vinham tentando estabelecer normas de controle dos bancos através dos famosos Acordos de Basiléia. Mas, a globalização precisava ser financiada: o desenvolvimento da China, Índia e Brasil. O Brasil não é tão inocente assim nessa desastrosa situação atual. Bancos brasileiros também possuem filiais em paraísos fiscais. Bancos e empresas brasileiras também saíram chamuscados dessa farra global. Os Estados Unidos tocavam a orquestra e o resto do mundo dançava. Estavam todos felizes com o ciclo de prosperidade e até dele todos se jactavam, uns mais outros menos, é verdade.
Os economistas, porém, sabiam, e muito bem que esse ciclo iria terminar. E que não acabaria nada bem. Já em O Mundo Hoje, anuário econômico e geopolítico mundial, publicado em 1996, Dominique Puhon escreveu um artigo intitulado “O Preocupante Sucesso dos Produtos Derivativos”, onde afirmou: “Com isso, os bancos centrais temem o risco “sistêmico”, isto é, a falta de pagamento de um integrante que provocaria o não pagamento de outros, suscetível de desencadear então uma crise financeira generalizada.” Foi exatamente o que aconteceu. E acrescentou: “Não é, pois, surpreendente que as autoridades monetárias de vários países tenham disparado o alarme.” Não se trata de profecia. Trata-se de ciência econômica. A ciência é previsão. É, sobretudo, isso, previsão.
Assim, aquela frase de Thomas Jefferson reflete, em parte, essa preocupação com a atividade bancária, que sempre existiu nas sociedades humanas nacionais: a atividade bancária tem que ser controlada. Até Milton Fredman, aquele odiado economista pai do neoliberalismo, e avô da globalização, preconizava o controle da atividade bancária. Até Adam Smith, o inventor da economia do mercado livre, aquele da mão invisível, queria o controle dos negociantes, sobretudo dos diretores das sociedades anônimas. Essa visão decorre das experiências freqüentes de pânico financeiro em todas as nações. Ela não foi uma profecia. Ela é a expressão de uma constatação, oriunda de experiência humana universal diuturna.
Mas, na forma como foi expressa e pela pessoa que a expressou, aquela preocupação é também manifestação veemente de entranhado preconceito de um ruralista contra a urbanização, o comércio, a indústria e, sobretudo, a atividade bancária. Ela é, antes de tudo, a manifestação definitiva de um dos maiores vultos da história política universal, que implantou no mundo o primeiro governo democrático representativo, sustentado nos valores da liberdade individual e na igualdade dos cidadãos (exceto negros), contrário ao governo forte e à primazia das leis, defensor da sociedade de parceiros esclarecidos pela educação. Thomas Jefferson replicava Jesus Cristo, Buda e Sócrates: quanto mais sábios os indivíduos, de menos governo e leis a sociedade humana necessita. A sociedade boa é a parceria de indivíduos bons. Ele prenunciava os famosos anarquistas do século XIX: todo governo é desigualdade, é manipulação da sociedade pelos interesses de poucos, é oligarquia.
O próprio Thomas Jefferson produziu o autorretrato, quando redigiu seu epitáfio: "Aqui jaz Thomas Jefferson, autor da declaração da independência americana, da lei da liberdade religiosa da Virgínia e pai da Universidade da Virgínia"

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