terça-feira, 10 de março de 2009

57. Mensagem a Meus Amigos 2 (a pedido, continuação)


No final do século V AEC, Platão, para explicar as idéias inatas de seu mestre Sócrates, levantou a hipótese de que existiria um mundo das Formas, isto é, das Idéias. Admitida essa hipótese, ele constrói todo um sistema racional para explicar os fenômenos da natureza e o homem.
Imaginemo-nos numa praia ensolarada e repleta de banhistas. Temos um mundo de pessoas e um mundo de sombras. Assim é para Platão o mundo da realidade ou, melhor, os dois mundos da realidade: o mundo das Formas e o mundo dos seres sensíveis. O mundo das Formas é o mundo de fato real, onde todas as Idéias existem, inclusive, as Idéias dos indivíduos humanos que são as suas almas. As Idéias são eternas, inclusive as dos indivíduos humanos. Estas, no mundo das Idéias, contemplaram as Idéias de todas as coisas. Quando as Idéias se encarnam, se materializam, elas formam os indivíduos humanos e esquecem as Idéias que contemplaram no mundo das Formas. Platão admitia que essa materialização podia acontecer muitas vezes, a transmigração.
Platão fez sua epistemologia (teoria do conhecimento e do método) partindo da hipótese da existência de um mundo das Formas. A ontologia e a Cosmologia de Platão, portanto, implicam a existência de dois mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível (o mundo das Formas). Ambos são reais. Só que o primeiro é mera imagem fugaz do segundo.
Platão utiliza um mito grego para explicar a existência desses dois mundos. No início só existiam as Idéias, sob a hierarquia suprema do Bem (Idéia do Bem), e a matéria caótica. O Bem para difundir-se criou um demiurgo, um artesão habílimo e matemático, para este fabricar o mundo sensível. O demiurgo copiou todas as formas e as foi imprimindo na matéria caótica. Assim, teve origem o mundo sensível, o mundo das sombras.
A primeira imagem materializada foi a do próprio mundo. O mundo é um cosmo, um organismo vivo: possui uma alma. Alma é o princípio vital que anima um ser, é um princípio de auto-atividade e de autoconservação. Inicialmente, pois, só existia uma alma universal. Dela provieram as almas dos deuses e as dos homens.
O homem é o conjunto de uma alma e um corpo. A alma humana é intermediária entre o divino e o mundo, destinada ao conhecimento, mas em razão do corpo sujeita ao erro. A alma é o que, em nós, conhece e permite conhecer. A encarnação da alma faz dela a sede dos apetites, dos desejos e da afetividade.
A alma é imortal, porque participa da eternidade das Idéias. É individual. Não pode, portanto, ser definida. Podem-se conhecer, porém, certas propriedades e funções, que podemos atribuir a alguma coisa que designamos como “alma humana”. Assim, é possível alguma ciência da alma, isto é, a Psicologia.
A alma humana é composta de três partes. A parte apetitiva se ocupa com tudo que diz respeito à conservação do corpo e à geração de outros corpos (fome, sede, sexo). É uma parte irracional e mortal. A parte irascível se ocupa com a segurança do corpo e da vida. Também é irracional e mortal. A parte racional ocupa-se com o conhecimento. É espiritual e imortal.
(continua)

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