quinta-feira, 12 de março de 2009

59. Mensagem a Meus Amigos (a pedido, continuação)


Por essa época, um médico francês, Hyppolite Rivail, interessou-se por certos fenômenos incomuns, como espontânea movimentação de objetos, levitação de objetos e pessoas, telepatia, comunicação extrassensorial, hipnose, psicografia, comunicação com os mortos, experiências em situação terminal de vida, transes, etc. Rivail, que assumiu o nome de Alan Kardec (nome de um sacerdote druida que, segundo pensava, teria sido em uma de suas encarnações anteriores) assumiu a hipótese de que existem espíritos. Os espíritos são imortais, encontram-se por toda parte, povoam todos os espaços do Universo, comunicam-se com os seres humanos vivos na Terra, explicam a existência daqueles fenômenos incomuns, encarnarm-se, desencarnam-se, reencarnam-se, transmigram de uma existência para outra, assumem qualquer forma de ser vivo, e em qualquer parte do Universo. Esses fenômenos incomuns também provariam a existência dos espíritos.
O espiritismo se difundiu pela Europa e pelo mundo, e teve muita aceitação aqui no Brasil. O espiritismo brasileiro teve seus expoentes máximos em José Arigó e, sobretudo, em Chico Xavier. O meio científico tradicional mostrou-se cético para com a doutrina espírita, porque ele tem como princípio fundamental que todos os fenômenos naturais se explicam por causas naturais. Os próprios espíritas sempre divergiram no que tange à ciência, enquanto uns estabelecem a discrepância entre a doutrina espírita e a ciência, outros tentam encontrar áreas de compatibilidade entre o espiritismo e a ciência. A ciência procurava explicar aqueles fenômenos incomuns, objeto dos estudos e crenças espíritas, através de outros fenômenos naturais e, se essas explicações eram eventualmente insatisfatórias, continuavam acreditando que poderiam no futuro explica-los dessa forma.
Como já dissemos, na década de setenta do século passado, a neurologia passou por uma revolução, graças aos avanços da tecnologia de radiologia e informática, sobretudo com a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, que permitiram o estudo do cérebro humano vivo. Nasceu, destarte, a chamada neurociência, que pretende unificar os estudos da anatomia, fisiologia, bioquímica celular, psicologia e psiquiatria. Estas ciências constituiriam partes da Neurociência. A subjetividade (sensações, emoções, sentimentos, motivações, percepções, pensamentos, idéias, juízos, raciocínios, etc) e o comportamento humano seriam meros produtos (respostas) da atividade do sistema nervoso.
Boa parte daqueles mesmos fenômenos explicados pela psicanálise freudiana passou a ser explicada pela Neurociência como fenômenos oriundos de regiões específicas do cérebro, como a epilepsia, ou de neurotransmissores, como a depressão resultante do baixo nível de dopamina ou serotonina. Assim, muitas das doenças mentais, que eram tratadas pela psicanálise, passaram a ser curadas pela psiquiatria, através de medicamentos ou de intervenções cirúrgicas.
Da mesma forma, muitos daqueles fenômenos estudados pelos espíritas passaram a ser explicados mediante o funcionamento específico do cérebro em determinadas circunstâncias. Hoje se sabe que, só com o pensamento, o homem pode mover objetos, controlar o cursor numa tela de computador, abrir mensagens eletrônicas, jogar videogames e comandar braços robóticos. Através dos neurônios-espelho, um indivíduo percebe a intenção de outro, isto é, lê os seus pensamentos. Mediante um colar aposto em volta do pescoço de um mudo, transporta-se o seu pensamento para o monitor de um computador ou de um celular, na forma escrita e oral. Brevemente, utilizando máquinas capazes de atuar sobre os neurônios, o homem lerá o pensamento dos outros homens. Atuando-se sobre uma região do cérebro chamada corpo estriado, que se situa na base do cérebro, pode-se fazer o tempo passar mais vagarosamente: isso pode ser feito também utilizando-se neurotransmissores. Utilizando-se ímãs poderosos, pode-se provocar convulsão, curar a depressão, melhorar a memória, aliviar dores, aguçar a atenção, facilitar o aprendizado e ajudar a parar de fumar. Estimulando certas áreas do córtex cerebral, responsável pela percepção do espaço, pode-se ter a sensação de que o individuo se elevou do corpo, contempla-lo de cima como se sobre ele se esteja pairando, passear pelo ambiente em redor e mover-se por ambientes luminosos, como nas experiências relatadas pelos que passaram por momentos terminais e deles retornaram.
Defeito no V1 do lobo occipital provoca alucinações; no lobo frontal esquerdo (área de teste da realidade), confusão entre a subjetividade e a objetividade; na área occipito-parietal, objetos aparecem ou desaparecem na visão. Estimulação do lobo temporal, por epilepsia ou drogas, flashbacks e sensações de uma "presença"; do sistema temporal/límbico, visões religiosas e sensação de estar na presença de Deus; do córtex auditivo/área da fala, vozes alucinatórias; do córtex auditivo superior, sons e barulhos, que o cérebro interpreta como significativos; da área de formato visual, contornos fantasmagóricos; e da margem do córtex parietal/sensorial, duplos espectrais de pessoas vivas, visão espectral de si próprio.
O livro de Psicologia da professora Linda Davidoff relata um distúrbio de esquizofrenia de uma mulher que viveu vinte e duas personalidades diferentes. Não vou me alongar muito sobre isso. Só quero resumidamente relatar que a Neurociência relaciona elevado número de distúrbios, correlacionados com esses comportamentos paranormais estudados pelos espíritas, e os explica, e os classifica da seguinte forma: distúrbios afetivos, distúrbios da ansiedade, distúrbios com manifestação somática, distúrbios dissociativos, distúrbios pelo uso de substâncias, distúrbios esquizofrênicos, distúrbios de personalidade e distúrbios na infância, pré-adolescência e adolescência.
(continua)

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