sexta-feira, 6 de março de 2009

53. Mensagem a Meus Amigos 2 (a pedido)


A crença em espíritos era generalizada nos tempos antigos, na era antes de Cristo. O céu, os astros, a Terra, os ventos, as fontes, as florestas, os lagos, as cavernas, os mares, os rios, os homens, tudo é espírito ou é habitado por espíritos. Pensa-se até que os homens de espécie diferente do homem moderno (o homem sapiens), como o homem de Neandhertal, acreditavam em outra vida, enterrando os mortos em atitude de renascimento.
Os gregos acreditavam no daimon que existiria em nós, responsável pelo que cada um de nós é, pelas nossas atitudes e pelo nosso destino. Os romanos reverenciavam os deuses lares e os antepassados em seus altares domésticos. A generalidade das crenças primevas acredita em espíritos, que nos cercam, que convivem conosco, que se intercomunicam conosco, que nos fazem bem e nos fazem mal, e até que nos pregam travessuras.
Os astecas acreditavam que os guerreiros sacrificados ou mortos em combate subiam ao céu para juntar-se ao sol, de onde, decorridos anos, regressariam para reencarnar-se em beija-flores. Religião africana acredita que o nascimento de uma criança consiste na reencarnação de um antepassado, de modo que o nome só é dado ao recém-nascido depois de se saber que antepassado nele se reencarnou. Um antepassado pode encarnar-se em vários descendentes ao mesmo tempo, porque nascer é herdar alguma coisa da natureza, qualidades e status de um antepassado. Os antepassados transmitem o nome e o próprio ser. Até as cobras e outros animais podem ser encarnações dos mortos.
Todavia, a idéia religiosa mais antiga e completa sobre a reencarnação se encontra no Induísmo. Há seis mil anos, na região em que hoje se localizam Índia e Paquistão, moravam ao norte os najas e ao sul os dravidianos. Em alguns sítios do vale do rio Indo, trabalhos arqueológicos localizaram cidades que datam de mais de quatro mil anos AEC. Aquelas populações eram politeístas e animistas: adoravam uma multidão de deuses e rendiam cultos a miríades de espíritos. Cultivavam o rito da pureza espiritual, lavando-se nos rios Indo e Ganges, e viam-nos como fonte da vida. Cultuavam, por isso, a mãe-terra e o deus masculino, de três cornos e três cabeças.
Por volta do terceiro milênio AEC, grupos de arianos se movimentaram das margens do mar Cáspio para instalar assentamentos naquelas terras. Aos poucos, durante o segundo milênio AEC, essa população de origem ariana foi acumulando um patrimônio de cânticos, de fórmulas mágicas e rituais, e de pensamentos filosóficos - os Vedas - que começaram com o Rig Veda (os cânticos do conhecimento) e se concluíram com os Upanishads (ensinamentos dos sacerdotes). O Rig Veda nos fala do Mundo da Alma, de cuja boca provêm os sacerdotes, dos braços os guerreiros, das coxas os proprietários de terra e negociantes, dos pés os trabalhadores e servos, gerando assim a organização social em castas.
Os Vedas foram elaborados e transmitidos oralmente de geração a geração. No primeiro milênio AEC, assumiram a forma escrita. Essa doutrina milenar constitui as raízes do hinduísmo. Aí pelos anos 600 AEC foram escritos os Upanishads.
No panteísmo hinduísta sobressaíam originalmente três deuses: Agni, Indra e Varuna. Agni era o deus do fogo, “a força de vida da natureza” “a chama sagrada, o raio que riscava o céu, a chama da vida e dos espíritos do mundo”; Indra, o deus do céu e da guerra, o provedor das chuvas e, por isso, o maior dos deuses; e Varuna, o controlador da ordem cósmica, a fonte da lei moral e da lei da justiça.
O Rig Veda, no chamado Hino da Criação, se põe o questionamento da origem do universo:
“Nem Alguma Coisa, nem Nada existia...
Não havia morte – e nada era imortal...
O Único Um respirava sem fôlego por si mesmo.
Outro além dele nunca havia sido.
Trevas, e tudo no começo velado
Em tristeza profunda – um oceano sem luz -.
O germe, que ainda jazia coberto pela casca,
Irrompe do fervente calor.
Então vem sobre ele o amor, a nova fonte
Do conhecimento–sim, poetas em seu coração discerniram esse salto entre as coisas criadas
E não criadas. Vem esta faísca da terra,
Tudo atravessando, ou vem do céu?
Então as sementes foram semeadas, e poderosas forças surgiram.
Natureza embaixo, poder e vontade em cima –
Quem sabe o segredo? Quem o proclamou aqui?
De onde, de onde esta múltipla criação procede?
Os próprios deuses vieram depois.
Quem sabe de onde procede a grande criação?
Aquele de quem esta criação veio foi a seu desejo criado ou era mudo.
O Altíssimo Vidente, que está no mais alto céu,
Ele o sabe – ou talvez nem mesmo ele.

Os Upanishads oferecem uma explicação panteísta para a origem do universo:
“Na verdade ele não tinha prazer; um só não tinha prazer; ele desejou um segundo. Ele era, na realidade, tão grande como uma mulher e um homem abraçados. Ele fez esse eu cair em dois pedaços; desses dois pedaços saíram um marido e uma esposa. Por isso,... cada um é como uma metade; ...por isso esse pedaço se enche com uma mulher. Ele copulou com ela. Por isso os seres humanos vieram. E ela ponderou consigo: “como copula ele comigo depois de ter-me tirado de si mesmo? Vem, deixa que me esconda a mim mesma.” Ela se tornou uma vaca. Ele se tornou um touro. Com ela copulou ele. E então o gado nasceu. Esse tornou-se uma égua e ele, um garanhão. Ela se tornou em jumenta e ele em jumento. Com ela copulou ele e daí nasceram os animais de casco... Assim realmente ele criou tudo, todos os pares, mesmo as formigas. Ele sabia: “Eu realmente sou esta criação, porque eu emiti tudo de mim mesmo”. E assim surgiu a Criação.”
Nisso se concentra a pesquisa dos Upanishads, obra que deu nova forma ao hinduísmo, na descoberta do que é permanente sob o evidente fluxo da existência, na descoberta da base do universo, da realidade anterior a todas as outras existências: Brahma. Brahma, portanto, também é a realidade que se acha por trás do eu individual (átmã). Brahma é "o espírito-sopro que se encontra na raiz de toda existência, e é isso mesmo o que tu também és..." Ele "habita no interior de tudo e no exterior de tudo não nascido, puro, maior do que os maiores, sem respiração e sem mente... sempre presente no coração de todos, é o refúgio de todos e a meta suprema. Em Brahma existe tudo o que se move e respira... É o adorável.

(continua)

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