sábado, 4 de abril de 2009

82. A Cúpula do G20 em Londres


Há certos fatos que a Ciência Econômica enfoca como desastrosos a longo prazo e benéficos a curto prazo. Exemplos são o déficit no balanço das contas de transações correntes dos Estados Unidos e a liberdade de agentes financeiros.
A necessidade do controle da atividade bancária, a mágica atividade de criar moeda, é mais que centenária. Nos tempos atuais, os livros didáticos dissertam com ufania sobre os vários acordos financeiros de Basiléia, que pretendem conferir transparência e controle às atividades financeiras. Os grandes mestres da Ciência Econômica, em sua amplíssima maioria, coincidem na opinião de que a atividade financeira deve ser controlada para o bem das finanças, da economia e da sociedade. Até o pai da expressão “Consenso de Washington”, que o ilustre Primeiro Ministro da Inglaterra disse que acabou, afirma que nunca se posicionou contra a regulamentação financeira nem contra a intervenção estatal na economia.
A quem interessava, então, a excessiva liberalização da economia? Aos banqueiros, aos negociantes, aos investidores, aos consumidores e aos políticos. Quem agia com toda a liberdade? Os banqueiros. Quem tirava proveito da liberdade desenfreada? Os banqueiros, os negociantes, os consumidores, os investidores especuladores e ambiciosos, e os governos. Sempre se soube que os paraísos fiscais são locais de esconder dinheiro da máfia e dos sonegadores fiscais, locais de se ganhar dinheiro ludibriando o fisco, o bem comum, a sociedade. E muita gente boa colocava suas rendas nos paraísos fiscais. E as autoridades de todos os países sabiam disso e até apreciavam muito. Isso, efetivamente, interessava a muitos governos.
E quem deveria ter coibido os negócios da subprime, dos derivativos e dos paraísos fiscais? Os governos. Os governos vinham sendo alertados, desde há quinze anos, pelo menos, que a bolha da subprime, dos derivativos e das alavancagens financeiras gigantescas, quando explodisse, seria uma catástrofe. E os governos nada fizeram e, inclusive o governo brasileiro, se sentiam felicíssimos e se exibiam artífices de uma prosperidade jamais alcançada no passado.
Agora, a Cupula do G20 em Londres acaba de decidir que vai controlar as instituições financeiras todas e os negócios de derivativos, bem como baixar normas e fiscalizar os negócios nos paraísos fiscais. No longo prazo, como se previa, a farra converteu-se num desastre... Prometem que exigirão transparência na gestão das empresas financeiras e limitarão a renda dos administradores dessas instituições. Acho que farão algo nesse sentido, efetivamente.
Já percebo, porém, que não ousaram encarar a reação chinesa no tocante às praças de Hong Kong e Macau. Os países produtores de petróleo são também grandes investidores no mercado finaneiro internacional. Eles, efetivamente, aceitarão a transparência e a fiscalização de seus negócios de aplicação de recursos financeiros?
Já no que tange ao déficit crônico do balanço de transações correntes dos Estados Unidos, a Cúpula do G20 em Londres nem se preocupou, porque sabe que ele, nos próximos anos, época em que aqueles governantes serão os responsáveis pela economia mundial, terá que continuar deficitário para conseguir retirar a economia mundial do abismo da depressão em que foi lançado.
E fico aqui imaginando: quem, no futuro, terá destemor suficiente para corrigir a armadilha fundamental da economia norte-americana?! As grandes empresas norte-americanas para sobreviverem passaram a produzir nos países emergentes ou nos tigres asiáticos ou no México e no Canadá. Elas não têm eficiência suficiente para concorrer com empresas estrangeiras no próprio solo norte-americano, utilizando a mão de obra cara norte-americana. Tenho muitas dúvidas de que o governo norte-americano detenha poder de coação suficiente para impor a redução da renda de trabalho ou que o trabalhador norte-americano suporte a queda da renda de trabalho.
Não vejo nada que seja, como alguém disse, mudança de estilo civilizatório. Nada. O mundo continuará conduzindo-se segundo o estilo do consumismo desenfreado, que adotou no final do século XIX. A China continuará sua expansão desenvolvimentista das grandes indústrias poluidoras, dos grandes centros de produção e de consumo. Dubai continuará construindo o mercado do turismo sofisticado para os consumidores bilionários. O Brasil continuará devastando a floresta amazônica, alargando as megacidades sem qualquer pudor urbanístico, destruindo as nascentes d’água, assoreando os rios, poluindo as praias, abrindo abismos nas colinas de Minas Gerais e do Pará e transportando o solo brasileiro para as megacidades chinesas. A África, que mal foi ouvida, continuará desafiando a ONU com a atrocidade dos genocídios. A rainha da Inglaterra enterneceu o seu povo, abraçando a negra primeira-dama norte-americana e pousando ao lado do torneiro mecânico Lula, presidente do Brasil, em vez do negro presidente norte-americano, na foto oficial da Cúpula. Mas a família real inglesa continuará residindo nos palácios e gastando milhões de libras mensalmente na sua subsistência... Não nos iludamos, continuarão existindo uns poucos Bill Gates e artistas de Hollywood, refestelados em palácios, e continuará existindo a ampla maioria de negros africanos esquálidos e famintos... E a população humana continuará crescendo para que existam poucos ricos e vastas multidões de miseráveis que os sustentem mediante a alienação da renda do trabalho. Nada se falou acerca da procriação irresponsável que prossegue reforçando a superpovoação do planeta. E a grande massa prosseguirá governada por uma oligarquia de profissionais da política, vivazes e mistificadores. Os governos continuarão apoiando-se na força ou na dissimulação, como descreveu Maquiavel. E a Economia persistirá com suas flutuações, entremeando períodos de expansão com períodos de contração.
Nada se falou do indivíduo humano nessa Cúpula. O foco tinha que ser primeiramente o indivíduo humano e, em seguida, os governantes. O indivíduo humano é o agente da civilização. Não são os governantes. Toda essa Civilização está errada. Essa teoria econômica só mudará, se o indivíduo humano mudar. A Economia só mudará, se o indivíduo humano mudar. Os governantes, como sempre, pouco conseguirão fazer e, sobretudo, serão em geral ofuscados por interesses particulares, permanecendo alheios aos interesses universais da Humanidade. O indivíduo humano tem que mudar. O indivíduo humano tem que se abrir para a luz do Conhecimento e da Sabedoria, através da Educação, aquela preconizada pelo poeta romano Juvenal: mens sana in corpore sano.

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