quarta-feira, 8 de abril de 2009

86. O Intervencionismo


Em 1620, Francis Bacon publicou o Novum Organon, onde fixou o sentido da verdadeira ciência: ciência do concreto. A nova ciência deixa de ser contemplação estéril para se tornar poder de construir: o fim da ciência é dotar a vida humana de novas invenções e novas riquezas. No século XIX, aos vinte e seis anos de idade, Marx expressou o mesmo pensamento em frase que se acha esculpida na lápide que fecha seu túmulo no cemitério de Highgate em Londres: “Até agora, os filósofos fizeram apenas interpretar o mundo de várias maneiras. Mas o que importa é modificá-lo!”
Marx, como ativista político, se propôs acabar com a economia de mercado, que julgava injusta na distribuição desigual da riqueza, substituindo-a pela economia planejada, onde o Estado, assumindo a propriedade dos meios de produção (terra, mão-de-obra e capital), planeja a produção, a distribuição da renda e o consumo. Marx, ativista político, opõe-se a Marx, filósofo da História, que pretende ter descoberto a lei da evolução social, que antevê o inexorável advento do socialismo, como desdobramento do determinismo histórico-dialético. Abandonada a economia às forças naturais do mercado, uns poucos capitalistas ficam cada vez mais ricos, às custas da massa de trabalhadores que fica cada vez mais pobre. Ao final do processo, a massa dos trabalhadores se apodera dos meios de produção, de sorte que a riqueza ilimitada se distribui igualmente por todos que se tornam igualmente ricos.
Marx não captou o profundo significado do mercado. Segundo Ludwig von Mises, o mercado é a presença de todos os consumidores, da massa da população, desde os mais ricos até os mais pobres. Todos lá se apresentam dizendo o que querem e o que não querem comprar, se querem ou não querem comprar, quanto querem comprar e por quanto querem comprar. O mercado é a única forma democrática da economia. Cada consumidor está presente no mercado com os seus planos econômicos e de vida. Os planos pessoais dos consumidores fixam diretamente os preços das mercadorias e indiretamente os preços dos meios de produção, isto é, os salários (preço da mão-de-obra), o lucro (preço do capital) e finalmente os juros (preço do capital adquirido no mercado). Os produtores têm que se subordinar à vontade dos consumidores.
O planejamento central é a substituição de todos os planos individuais (considerados errados) por um planejamento concebido pelo planejador estatal (considerado perfeito). Nada menos democrático, e nada mais contrário à economia (atividade que se destina a satisfazer às necessidades do indivíduo). Nada mais insultuoso à dignidade do indivíduo, julgado incapaz de conhecer o que é bom para ele, e obrigado a aceitar o que não lhe interessa.
Keynes concebeu em 1936 a economia mista: compromisso científico entre a economia de mercado e o planejamento estatal (que se pensa corretivo das deficiências do mercado). Os economistas neoclássicos acham que a interferência corretiva do Estado só deve se realizar através da política monetária, isto é, controlando a massa monetária circulante no mercado. Keynes acrescenta a política fiscal, isto é, o controle das despesas do Estado.
Outros economistas, entre os quais grande parte dos economistas do Terceiro Mundo, acham que o intervencionismo do Estado pode ir mais além, controlando preços, salários, lucro e juros.
Ludwig von Mises observa que o intervencionismo isolado produz o efeito oposto àquele que a intervenção pretende alcançar. Por exemplo, a intervenção redistributiva de riqueza, provoca a curto prazo o aumento do consumo (que se deseja) e a queda da poupança (que não se deseja) e, por isso, a longo prazo, haverá retração da produção e do consumo: mais pobreza. Por isso, a intervenção provoca mais intervenção para corrigir os efeitos nocivos da intervenção, por exemplo, a poupança compulsória para gerar a poupança que a distribuição de renda consumiu.
Ludwig von Mises acha que o intervencionismo é caracterizado por intervenções episódicas. Mas, um conjunto sistemático de intervenções, que controle preços, salários, lucros e juros, transfere para o poder do Estado a posse dos meios de produção. É o socialismo de fato, embora disfarçado, porque aparenta existir o mercado. Este foi, diz ele, o socialismo nazista.
(Publicado no ano de 1986)

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