quinta-feira, 9 de abril de 2009

87. O Estado Paternalista


Adam Smith disse que o trabalho faz a riqueza das nações. A condição fundamental necessária é a liberdade. O estímulo para a criação da riqueza é o lucro. Em outras palavras, só é rica a nação cujos cidadãos querem ser ricos. O indivíduo livre, que trabalha com a ambição de ser rico, se torna provavelmente rico. Se os indivíduos livres trabalham sob o desejo de serem ricos, tornam-se ricos, e a nação se torna rica. A formação da riqueza é fenômeno complexo e pleno de condicionantes. Mas, esse é o fato fundamental: a nação rica é resultado dos esforços de cidadãos que querem ser ricos.
Se os cidadãos se propõem ser santos, formar-se-á uma nação eticamente quase perfeita. Será provavelmente uma nação de monges. Haverá baixa violência e baixa criminalidade. Os habitantes encontrarão a felicidade na renúncia, na privação, no isolamento e na oração. A nação será plena de harmonia e de espiritualidade. Para viver unidos exclusivamente a Deus, os cidadãos renunciarão à riqueza e ao convívio humano. Santa, a nação não será rica certamente. Nem será uma sociedade de progresso econômico. Será uma comunidade com retrocesso tecnológico e de padrão de vida em decadência. Nela não se usufruirá a satisfação do consumo. A população declinará e a humanidade tenderá a extinguir-se.
Suponhamos que não sejamos tão utopistas que pretendamos construir a nação dos santos. Voltemos à realidade da nação dos pecadores. Mas, pelo menos podemos querer construir uma sociedade mais igualitária. Aqueles que se propõem ser ricos, são considerados especuladores, exploradores e egoístas. Quanto mais você sabe fazer riqueza, mais você tem de se contentar em dividir com a multidão dos que não sabem ou não querem ser ricos, com os que se contentam em ter pouco, não ambicionam ter muito, nem se sacrificam para serem ricos. Os ricos são maus. Os pobres são vítimas inocentes.
A nação formada na crença distributiva é uma sociedade em crise. Destinada à pobreza, passa-se a distribuir miséria. Estimula-se a irresponsabilidade pessoal. Criam-se expectativas cada vez maiores. Desestimula-se cada vez mais o esforço produtivo. Exige-se cada vez mais e produz-se cada vez menos. É uma nação de burocratas. Ou de assalariados que nada arriscam e apenas buscam segurança, sob o pálio dos poucos dispostos a correr riscos. Ou de protegidos do Estado déspota e pobre.
No pleno gozo dos benefícios sociais do Capitalismo, Marx formulou o dogma da inevitabilidade do Socialismo. A sociedade veio desenvolvendo-se sob o incontornável confronto das contradições, até chegar ao Capitalismo. O processo dialético da História desemboca no Capitalismo, que é o sistema por excelência da produção da riqueza. Rica, a sociedade está madura para o Socialismo. Ela é então inexoravelmente impelida para a distribuição, por todos os indivíduos, dos frutos do trabalho que se concentraram na posse de poucos. Os marxistas sabem muito bem que o Socialismo não prima por ser uma sociedade de riqueza.
Retorno a Adam Smith. A sociedade, que se fulcra no espírito caritativo, está destinada à pobreza. Nem chega a formar-se. Em se formando, não perdura. A lei fundamental da sociedade é o egoísmo individual. Cada indivíduo procurando o seu bem, negocia a cooperação alheia. O egoísmo leva ao altruísmo. É a doutrina da harmonia dos interesses. Dessa forma, os pobres melhorarão o padrão de vida, através da cooperação de todos, inclusive dos ricos.
Sociedade sem ricos é sociedade de miseráveis. Mais ricos, menos pobres. A cooperação é boa para todos. O conflito é ruim para todos. A vontade de ser rico faz rica a nação. A preocupação com distribuir diminui a riqueza da nação. E o Governo é para todos, pobres e ricos.
(Artigo publicado no "Jornal da Manhã", Teresina-PI, em 28/12/86)

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