domingo, 5 de abril de 2009

83. A Poupança


A poupança é renúncia ao gasto da renda ou do que se produz. Se gasto tudo o que produzo, não posso ter pretensão em melhorar, nem sequer manter, minha produção. Se poupo tudo que produzo, morro. Morrer é a pobreza definitiva. Produzir é a riqueza. Aumentar a produção é ficar mais rico.
Cada povo tem sua taxa ou coeficiente de poupança, que sofre, é claro, variações, segundo as circunstâncias. A poupança excessiva é mal tão grande quanto o consumo excessivo. Poupança sem investimento, já observou Malthus, gera a crise da superprodução ou depressão. Esse fenômeno ocorreu em 1929.
Poupa-se por temperamento e hábito. Poupa-se por tradição e cultura. Poupa-se por avareza. Poupa-se por objetivo próximo, como realizar projeto de viagem ou possuir bens que muito se almejam. Poupa-se por previdência: cobrir os custos da velhice ou moléstia. Poupa-se para se investir, isto é, para manter ou aumentar a produção, para enriquecer. Poupa-se por inúmeros motivos, enfim. A causa mais decisiva da poupança é o nível de renda ou riqueza de cada um e de cada povo. Há pessoas com renda tão ínfima que despoupam, isto é, gastam mais do que recebem, ao invés de poupar. Outras não poupam nem despoupam, apenas equilibram receita e despesas. A receita de outras pessoas costuma superar as despesas.
É natural que se gaste a renda com alimentação, vestuário, calçado, habitação, transporte, saúde e lazer. Havendo excedente, compreende-se que se gaste com o que se chama de luxo: jóias, vilas, iates, viagens de recreio, residências espetaculares. Finalmente, poupa-se: consumados todos os gastos, ainda há excesso de riqueza. A poupança, disse Paul Samuelson, é o último dos luxos. Claro que isso é força de expressão. Mas, põe em destaque a essência da poupança: é o excedente da receita sobre os gastos com a satisfação das necessidades de cada um. Se minhas necessidades são incontroláveis, não há poupança, por maior que seja minha receita. Só há consumo. Seja como for, maior o nível de renda ou riqueza, maior será a poupança provavelmente.
No regime liberal, que respeita o indivíduo como supremo árbitro de seu destino, a poupança e o consumo são decisões pessoais. A desigualdade de renda individual contribuirá para que surja a poupança espontaneamente, sem coação do Estado. A desigualdade de renda individual tem função econômica e social. A intervenção do Estado no mercado, igualando as rendas individuais, fá-lo nivelando por baixo, estimulando o consumo excessivo e desestimulando a poupança. A política distributiva da renda traz o corolário desagradável e natural dos empréstimos compulsórios ou poupança compulsória, como correção do excesso de consumo. Ludwig von Mises enfatiza que intervenção gera mais intervenção, porque a intervenção provoca o contrário do que se pretende com ela.
No socialismo, o Governo impõe antecipadamente o que deve ir para o Estado como poupança, e arbitrariamente divide o que resta pela população. É a escravização do povo. Seja qual for o regime, não há progresso sem investimento, nem há investimento sem poupança.

(Publicado no jornal A Libertação, de Parnaíba-PI, em 31.12.86)

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