sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

12. Barack Obama


No dia 20 do corrente mês, Barack Obama tomou posse na presidência dos Estados Unidos. Eu tenho muito respeito pelos Estados Unidos. Ninguém tire deles a glória de ter reinstalado na Terra, nos tempos modernos, o governo democrático, o governo sem rei, mais de dois mil anos depois que o primeiro governo democrático, o governo sem rei, foi extinto, com apenas uns trezentos anos de existência! Eles endossaram o Estado do Bem-Estar Social e erradicaram da face da Terra o nazismo e o fascismo! Eles inventaram a produção para o consumo das massas, para o povo. E nenhum povo, nem mesmo o chinês, ultrapassa o norte-americano na inovação e criatividade.
A inovação é a força que dá início ao ciclo de um tempo de prosperidade. O grande problema de Barack Obama é fazer voltar os Estados Unidos a produzir. A economia saudável consta de dois fluxos circulares, consoante ensinaram os Fisiocratas do reinado de Luís XV. Foi lição econômica, ensinada pelo médico de Madame Pompadour, antes que Adam Smith inaugurasse o estudo científico dos assuntos econômicos (vejam só!) dissociados de considerações éticas.
O rio da renda, dizia o felizardo médico, começa nas Famílias, vai até as Empresas como capital, e volta para as Famílias na forma de salário, lucro e juros. O rio dos bens começa nas Empresas, vai até as Famílias na forma de bens de consumo e volta para as Empresas na forma de matéria-prima.
Até os anos 50, o capital ia para as empresas européias e, sobretudo, para as americanas. A partir de 60, as coisas começaram a mudar. Da mesma forma, o emprego e a renda voltavam para as famílias européias e norte-americanas. A facilidade de transporte de matérias-primas transferiu a vantagem competitiva para a produção nos locais de consumo. Os países emergentes, como o Brasil (esse era um dos ofícios da CACEX), por sua vez, passaram a impedir o ingresso de produtos estrangeiros, se tivessem similares produzidos internamente. Obrigaram os países industrializados a fabricar nas regiões subdesenvolvidas e a difundir o conhecimento de tecnologias. Quase tudo o que temos de tecnologia nuclear haurimos dos norte-americanos e dos alemães. Ainda agora, estamos obrigando os franceses a transferirem o conhecimento da tecnologia de produção de navios movidos a energia nuclear.
Assim, nos dias de hoje, a Europa e os Estados-Unidos ainda produzem mais que qualquer outra região do mundo. Mas, o resto do mundo, sobretudo Japão, Coréia do Sul, Taiwan, China, Índia, Rússia, África do Sul e Brasil, são países com significativa produção de industrializados. Muita renda na forma de salário, juro e lucro fica nesses países atualmente. Fábricas se fecharam nos Estados Unidos e na Europa, enquanto firmas japonesas e sul-coreanas diminuem o ritmo de produção. Muito desemprego. Muitas famílias, muitas pessoas com dificuldade para sobreviver e sem esperança.
Mas, como Estados Unidos e Europa consentem que suas empresas deixem de produzir lá e passem a produzir no exterior? Porque é difícil controlar o espírito de empreendimento, de enriquecimento, a ambição. As empresas dos países ricos foram produzir no exterior para produzir mais e com menor custo, lucrar muito mais no exterior do que nos países de origem. A produção nas regiões subdesenvolvidas é menos custosa, porque os operários aceitam salário menor. Mais produção e menor custo, mais venda e lucro maior.
Também os economistas acreditavam que grande parte desses lucros voltasse aos países de origem. Havia ainda a idéia de que o mundo dos negócios respeitasse a instituição das marcas e patentes. Havia ainda outro aspecto interessante. Esperava-se que se transferissem para os países subdesenvolvidos sobretudo as indústrias sujas, como a produção de aço e de alumínio, as indústrias com tecnologia defasada já. As indústrias de ponta e as indústrias limpas se manteriam nos países de origem. Infelizmente para os norte-americanos e europeus, nos negócios nada se respeita. Os países emergentes produzem qualquer remédio que os norte-americanos inventem (os famosos genéricos) e o Brasil compete na produção de certos tipos de aeronaves até com a Boing e a Airbus. Os países inventores ficam com o ônus todo da invenção, mas a renda da produção é repartida pelo mundo inteiro, em virtude da pirataria.
Estados Unidos e Europa permaneceriam também como os grandes provedores de serviços, como consultorias, finanças, pesquisas, ciência, invenções, tecnologia. Na verdade, tudo isso também está sendo compartilhado pelo resto do mundo. A produção científica hoje em dia, muito mais do que antes, e a invenção tecnológica são produtos globais.
O mundo de Barack Obama, presidente, é a cada dia muito mais diferente do mundo de Barack Obama, jovem mestiço norte-americano do Havaí. Assim mesmo, entendo que ele esteja pretendendo estimular a produção e o emprego da energia limpa e, como conseqüência, a intronização da nova economia, a economia com base no desenvolvimento sustentável. Pretenderia repetir o que aconteceu na primeira e na segunda fase da revolução industrial, quando a invenção de novos tipos de energia possibilitou a transformação da vida humana e a criação de infinitas formas novas de comodidade de vida bem como de fontes numerosas e maravilhosas de prazer. E naquela segunda fase os norte-americanos partiram na frente e empolgaram a liderança social e política da Terra. É assim que entendo a sua ênfase no investimento de gigantesco capital do Estado norte-americano em energia renovável de todos os tipos. É assim que entendo aquela exigência do Congresso Norte-Americano para a concessão do auxílio financeiro à indústria automobilística: façam o carro que ninguém é capaz de fazer e todo mundo quer ter.
Por isso, já disse neste blog “Pobre Barack Obama”, porque o empreendimento que lhe cabe liderar é simplesmente gigantesco e as forças que se lhe contrapõem são hercúleas. Muita coisa se tem ainda a dizer sobre isso. Mas, há uma que não quero calar: Obama foi eleito para presidir os Estados Unidos. Ele vai atrás do que interessa aos Estados Unidos. Ele olhará os problemas da Terra sob a ótica norte-americana. E fico refletindo sobre as pequenas dimensões da Terra e o enfoque humanístico de Erasmo de Roterdã, que se julgava um cidadão da Terra!...

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