sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

19. A Igreja Apostólica


Na segunda metade do século I EC, escreveram-se os livros do Novo Testamento. Note-se que o mais antigo vestígio dos livros do Novo Testamento é um pequeníssimo fragmento do início do século II EC. Das sete mil cópias antigas da Bíblia Grega completa (Antigo e Novo Testamento), todas apresentam faltas de páginas e apenas quatro são anteriores ao século X EC, a mais antiga é do século IV EC. A primeira pessoa a falar da existência de livro do Novo Testamento teria sido um cristão, de nome Pápias, por volta de 170 EC: Jerônimo (séculos IV e V EC) escreveu que Eusébio de Cesaréia (IV século) afirmara que Pápias aludira à existência do evangelho de Mateus.
Em razão da extinção da geração dos apóstolos, os escritos sobre Jesus Cristo, de autoria atribuída aos apóstolos ou a discípulos deles, começaram a adquirir importância, assim como as igrejas que a tradição afirmava terem sido criadas pelos apóstolos. O Cristianismo no século IV EC deixara de ser guiado pelo Espírito Santo para ser conduzido pela tradição apostólica: Igreja Apostólica. É que a inspiração do Espírito Santo levara, já no início do século III EC, a quase uma centena de cristianismos diferentes. A tradição apostólica passou, por isso, a ser o critério de ortodoxia.
Estabelecida a concepção da Igreja Apostólica, surgiu o problema de quais escritos continham a doutrina verdadeiramente pregada por Jesus Cristo, a doutrina ortodoxa. Apareceram coleções diversas de livros pretensamente inspirados por Deus (livros divinos), e, por isso, contendo a doutrina ortodoxa: o cânon. O primeiro cânon conhecido (muito reduzido) foi o coligido por Marcião, no meio do século II EC. No final desse século, Irineu, bispo de Lião, afirmou que só podiam existir quatro evangelhos, nem mais nem menos, pois, dado que há quatro regiões do mundo em que vivemos, quatro ventos principais,... é adequado que ela (a Igreja) deva ter quatro colunas. Quem primeiro compôs o cânon com vinte e sete livros do Novo Testamento foi Atanásio de Alexandria, no ano 367 EC. E afirmou que nenhum outro escrito poderia ser aceito como inspirado pelo divino Espírito Santo. O cânon de Atanásio foi aprovado pelo Concílio de Cartago (397 EC). E, por fim, para a Igreja Romana, a controvérsia foi dirimida definitivamente no Concílio de Trento (1546 EC).
A idéia realmente empolgante e dominante (que tornou contagiante o cristianismo e mudou o comportamento e as atitudes dos ouvintes dos apóstolos) no início do Cristianismo foi a parusia. Os crentes da igreja de Tessalônica, fundada por Paulo de Tarso, dele aprenderam que não morreriam, eram imortais já que a morte de Cristo os limpara do pecado (a causa de todos os sofrimentos humanos, inclusive e principalmente a morte). Em vez da morte, a segunda visita de Jesus Cristo arrebata-los-ia para o céu, o paraíso eterno nas regiões supralunares. Por isso, eles viviam juntos, orando e na comunhão de bens, na expectativa da parusia. Os poucos ricos distribuíam seus bens para o sustento da comunidade cristã da cidade, a igreja local. Eles não necessitavam de bens materiais já que a parusia era iminente.
Mas, aqueles primeiros cristãos olhavam em redor e já percebiam que alguns morriam! Começaram, por isso, a desiludir-se dos ensinamentos de Paulo, até mesmo instigados por novos pregadores cristãos, também, como acreditavam, inspirados pelo Espírito Santo. Paulo, então, escreveu a sua primeira carta (o primeiro documento escrito do Novo Testamento), na década de 40 EC, para fazer o seguinte adendo aos seus ensinamentos anteriores verbais: os companheiros de fé, que haviam morrido, seriam ressuscitados na iminência da parusia e, assim, com eles, os vivos, conduzidos por Jesus Cristo para o reino dos céus.
Os cristãos logo perceberam que a parusia, se bem que iminente, poderia não acontecer em sua própria geração. Essa nova idéia de Paulo (a ressurreição na hora precedente à parusia) inspirou a prática das catacumbas: facilitar a ressurreição, mediante a colocação dos cadáveres num mesmo recinto, lado a lado. Induzidos, igualmente, pela idéia da parusia, , cristãos mais fervorosos, aos milhares, na Ásia Menor e no Egito, passaram a viver no deserto como faquires e produzindo milagres. Os anacoretas, como Santo Antão, foram os primeiros monges cristãos. O monasticismo oriental logo evoluiu com Pacômio para a forma de cenobitas. O monasticismo oriental foi o embrião da Igreja Copta, uma seita cristã do Egito.
No século II EC, o Cristianismo já penetrara nas fileiras do exército romano e Irineu, homem letrado, era bispo da igreja de Lyon na França. E, mais importante, o Cristianismo já possuía uma organização elementar. Num certo dia de 177 EC, as populações de Viena e Lião apedrejaram os cristãos que ousaram sair de casa.
No século III EC, as idéias cristãs já eram defendidas por pessoas cultas como Orígenes e Tertuliano: A Igreja era, agora, uma grande e numerosa força no império, atraindo homens ricos e de alto nível cultural. Criou, assim, uma estrutura intelectual e filosófica. Tertuliano já se referia ao cristianismo nas Ilhas Britânicas. No século IV EC, Constâncio, pai de Constantino, queimou algumas igrejas na Gália e na Bretanha. A história de Portugal registra os martírios de São Veríssimo, Santa Máxima, Santa Júlia de Lisboa e São Vítor de Braga. Nesse mesmo século IV EC, na batalha da Ponte Mílvio, Constantino, com a cruz de Cristo estampada em sua bandeira e nos escudos de seus soldados, venceu Maxêncio, em cuja bandeira e escudos estava estampada a efígie de Mitras.

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