segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

15. O Brasil e a Farra dos Derivativos


Há tempos que venho imaginando o tamanho da farra dos derivativos e da subprime dos Estados Unidos. Quando ouvia nossos líderes enaltecerem a imunidade brasileira ao contágio, não acreditava tanto neles. Achava que não estavam ignorando como funciona o mercado financeiro internacional, é verdade. Mas, é verdade também, estavam desempenhando, e muito bem, o papel deles. Governo nunca é absolutamente sincero, quando se trata de notícia negativa em macroeconomia, simplesmente ou, no mínimo, porque a teoria econômica aceita atribui grande parte do sucesso ou do insucesso macroeconômico às expectativas racionais. É a famosa Lei de Murphy: em economia acontece aquilo que os agentes prevêem... E Governo existe para o bem do povo... É o que diz a ciência da Política em nossos tempos... É a arte do marketing do mundo globalizado, o que não é tão moderno assim, pois, já dizia Maquiavel, há seiscentos anos: em Política, é mais importante parecer do que ser...
Os banqueiros norte-americanos e europeus, sobretudo os norte-americanos, são muito criativos. Eles inventam papéis e vendem para o mundo inteiro. Assim, eu ficava matutando: qual o tamanho da crise dos derivativos, da subprime, das hipotecas dos pobres norte-americanos? Certamente ela não está circunscrita ao mercado norte-americano. O mercado norte-americano é globalizado. A economia norte-americana é hoje produzida, sobretudo, pelos serviços, serviços financeiros, consultorias, conhecimentos, pesquisas, tecnologias de ponta e invenções de todos os tipos.
Para mim, ela tem o tamanho do globo terrestre. Os norte-americanos tocam a música, e o resto do mundo dança. Onde está aplicada a riqueza da China, da Índia, da Rússia e dos xeques árabes? Estes são grandes negociantes e grandes depositantes de divisas nos bancos internacionais, isto é, norte-americanos, europeus e japoneses. Onde estão aplicados os ativos dos bancos europeus e japoneses? Porque onde estão os ativos dos bancos norte-americanos, nós sabemos. Essa riqueza toda está aplicada onde oferecer mais lucro, não sem cortejar a segurança do outro lado oposto da cerca, que pode ser matreiramente atraiçoada por uma taxa de juros mais generosa... E aí todos os apaixonados esquecem por alguns instantes a segurança para, no momento da explosão da bolha e em que o engodo se torna público, o investidor esperto se apresente como vítima e o banqueiro habilidoso se exiba como o rei nu ou o fabricante de sonhos ao ritmo de uma vara de condão de uma fada ou de um mágico.
Onde existia até ontem mais lucro e onde parecia haver até ontem mais segurança? Nas financeiras norte-americanas, nas hipotecas dos favelados norte-americanos e nos derivativos inventados por uns poucos espertos de Wall Street. Essa esperteza já era denunciada em 1966 em anuários estatísticos, fabricados nos Estados Unidos e na Europa e manuseados por consultorias econômicas e financeiras no mundo inteiro...
E me ficava uma interrogação: por que só a riqueza brasileira (e quanta riqueza ultimamente) seria tão clarividente e tão saudável a ponto de não se contaminar com toda essa ambição de lucro e renda? Uma contaminaçãozinha, que seja...
Agora, sabemos todos, as informações estão nos jornais diários e nos boletins das empresas de consultoria, a contaminação da ambição atingiu também o Brasil, na forma de marolinha, marola ou um pouquinho mais forte. Mas, chegou. Os jornais dizem até que o Madoff da Nasdaq tinha agentes negociando no seio de nossa sociedade endinheirada. E tem muita gente endinheirada neste país, graças a Deus. A riqueza brasileira contaminou-se também. Acho que não contaminou apenas os exportadores. Medidas do governo brasileiro foram baixadas para socorrer outras áreas da economia... Vi, por acaso, até fundo de pensão brasileiro planejando (não vi contratações efetivas) aplicar uma parcelinha de recursos em derivativo. Aliás, não é regra áurea em finanças a diversificação de aplicações?
Outra coisa. Todo semialfabetizado sabe hoje que se o valor do dólar dá subida de 60% é porque ele está raro e procurado. Logo o especulador está tratando de desfazer posições vendidas... Os mais espertos, os markets makers, já estavam tratando de serem os primeiros a largar o barco do REAL onde estavam se locupletando... É assim que funciona a economia, exatamente de acordo com a lei da evolução: quem se adapta melhor, e antes, é que sobrevive...

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