quarta-feira, 6 de maio de 2009

113.Clássicos Obsoletos


Certas pessoas criticam a citação de autores antigos sobre assuntos econômicos. Adam Smith, argúem, escreveu “Riqueza das Nações” debruçado sobre a realidade econômica inglesa do século XVIII. A realidade econômica de hoje é completamente diferente. E a ciência econômica evoluiu também. Marx e Keynes representam progressos científicos em relação a Adam Smith.
É claro que a ciência evolui. Mas, isso não significa que a ciência antiga é completamente errada. A Aritmética é uma ciência antiquíssima e válida. O periodismo, isto é, a teoria de que a validade das leis científicas é limitada a certos tempos e locais não goza de aceitação. Por outro lado, note-se que o pensamento smithiano tem raízes francesas, quando lá viveu Adam Smith e privou da amizade de François Quesnay. Se Adam Smith não merece mais ser considerado, simplesmente porque escreveu seu livro famoso em 1776, Marx também deve ser esquecido porque escreveu “O Capital” em 1867, há cento e dezenove anos. Poder-se-ia também contestar a validade do pensamento keynesiano exposto na “Teoria Geral” em 1936.
Acontece que há certos princípios fundamentais do pensamento smithiano ainda aceitos em todas as escolas do pensamento científico econômico moderno. E é isso que se pretende ressaltar quando se faz citação de autores antigos. Ou talvez seja citado certo princípio para contestá-lo. Ou ainda para nenhuma das duas coisas, e simplesmente por conveniência didática ou cultural. Adam Smith dizia que o trabalho é a origem da riqueza. Enquanto essa frase sintetiza a teoria smithiana do valor-trabalho, ela está superada pela aceitação generalizada da teoria maginalista do valor. Mas, na medida em que significa que o trabalho é um dos fatores da produção da riqueza, a ciência econômica hoje a incorpora na tríade trabalho, capital e terra, enunciada por Jean Baptiste Say em 1803, atualmente inter-relacionando-se no fundo de cena da tecnologia. A idéia smithiana da liberdade como condição fundamental necessária para a produção da riqueza, que é impulsionada pelo desejo do lucro, é a própria síntese do mercado, que representa a característica nuclear da economia capitalista. Keynes e os keynesianos são ardorosos defensores do mercado. Certos keynesianos, todavia, como Galbraith e Modigliani, mantido sempre o primado do mercado, reclamam a interferência necessária, transitória e direta do Estado no mercado para domar a espiral inflacionária. O pensamento econômico clássico, entretanto, revive atualizado nos neoclássicos como Milton Friedman, Gerard Debreux e James McGill Buchanan, agraciados com o Prêmio Nobel em 1976, 1983 e 1986.
A ciência é um repositório cultural recebido dos antepassados pela geração presente que o aperfeiçoa e desenvolve, e sobretudo um método ou instrumento de conhecer o universo. A ciência não se opõe ao senso comum nem o anula. Aperfeiçoa-o, ratifica-o e retifica-o . É o caminho mais rápido e adequado para se conhecer o universo. A ciência é componente importantíssimo da civilização atual, sobretudo da civilização ocidental.

(Publicado no ano de 1988)

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