terça-feira, 19 de maio de 2009

125. Câmbio e Economia (continuação)


Esse sistema monetário funcionou satisfatoriamente durante vinte anos, até 1971. Ao longo desse tempo os Estados Unidos exerceram extraordinária hegemonia mundial na política, na economia, e no poder militar. Essa liderança concretizou-se em despesas externas de segurança e guerra, de ajuda a países amigos ou de importância vital, bem como em investimentos privados ao redor do mundo. O ouro, que no fim da Segunda Guerra Mundial, abarrotava os cofres do Tesouro Americano, passou no fim da década de sessenta a refluir em grandes volumes para países europeus e o Japão, sobretudo para a França do General de Gaule. Em 1971 a situação americana tornara-se periclitante, de sorte que o Governo Americano decidiu em 15 de agosto declarar a inconversibilidade do dólar em ouro. O mundo era outra vez desprovido de um sistema monetário internacional.
Acabara o sistema monetário internacional em que era impossível a guerra das desvalorizações cambiais, onde era vedado o emprego da política cambial como arma contra as outras nações. A política cambial, ao contrário, era usada como chave que abria as fronteiras para as trocas de mercadorias e serviços para formar o grande mercado internacional. A única forma de um país obter vantagem sobre os demais residia no avanço tecnológico da produção que proporcionava a vantagem da produtividade. Dito sistema também inviabilizava políticas sociais, trabalhistas e econômicas equivocadas que infalivelmente conduzem às crises cambiais com os conseqüentes problemas de importação que bloqueiam o afluxo de produtos externos provocando a queda do padrão de vida da população.
A partir da década de 70, a economia internacional ficou desprovida de um sistema monetário internacional. O mercado de moedas ou mercado mundial de divisas passou a ter influência importante no mercado de bens, serviços e fatores de produção. As moedas deixaram de se relacionarem mediante taxas fixas de câmbio. As taxas de câmbio passaram a ser flutuantes, isto é, sobem e descem sob a ação das forças da oferta e da procura. Focalizemos dois exemplos. O dólar americano, anos atrás, eqüivalia a cerca de 300 ienes e vale hoje 132 ienes. Anos atrás, valia cerca de 10 francos franceses e mais recentemente baixou até 3 francos franceses. Isso significa que agora o consumidor americano ou compra a metade do que comprava no Japão ou transfere o dobro da renda para adquirir as mesmas mercadorias que comprava no Japão. Semelhantemente, houve época em que o consumidor comprava três vezes menos da França ou transferia o triplo da renda para adquirir a mesma quantidade de mercadoria. Efeito inevitável é que a desvalorização do dólar americano provoque a queda da importação americana, diminua a exportação para os Estados Unidos. As conseqüências são a retração da produção no resto do mundo, a natural reação de queda de preços dos produtos do resto do mundo e provável assistência de cada governo aos setores da economia nacional atingidos. Do lado dos Estados Unidos, esse mesmo fenômeno representa que o consumidor japonês pode comprar com a mesma quantidade de ienes duas vezes mais do que adquiria nos Estados Unidos anos atrás. O consumidor francês podia recentemente adquirir nos Estados Unidos o triplo de mercadoria que comprava com os mesmos francos franceses antigamente. A conseqüência natural é que os Estados Unidos passem a exportar mais para o resto do mundo, a produção americana cresça mantidos os mesmos preços, os preços americanos se elevem e a renda nos Estados Unidos suba. É provável, por outro lado, a reação protecionista dos agentes econômicos e dos governos dos países que se sintam prejudicados com a desvalorização do dólar americano. A reação se manifesta naturalmente através de medidas protecionistas.
(continua, palestra proferida no ano de 1988)

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