sábado, 28 de fevereiro de 2009

47. A Profecia de Thomas Jefferson


«Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo Americano alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que os seus pais conquistaram.»
Thomas Jefferson 1802
Ortega y Gasset, um grande filósofo e psicólogo do século XX, afirmou: eu sou eu, e minhas circunstância, isto é, cada um é o produto da hereditariedade e do meio-ambiente (de todas as infinitas experiências existenciais). É sob o enfoque deste pensamento, que pretendo explicar essa figura contraditória que foi Thomas Jefferson, um grande vulto da história dos Estados Unidos e da história universal e entender esse texto do grande estadista.
Quem foi Thomas Jefferson? Onde nasceu? Em que família? Em que tempo? O que se pensava? O que acontecia? Como se comportou? Thomas Jefferson foi um latifundiário, um advogado, um político nacionalista e renovador, e um cristão teísta.

1. O preconceito cristão contra os negociantes.

Thomas Jefferson nasceu na cidade de Shadwell, no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos da América. O Estado da Virgínia foi o primeiro a receber imigrantes ingleses, no início do século XVII. Treze anos depois é que chegaram os imigrantes do navio Mayflower a Massachusetts. Esses imigrantes eram profundamente religiosos e protestantes perseguidos. O nome Virgínia é homenagem à Rainha Virgem, Elizabete I da Inglaterra.
É importante lembrar que durante mil anos o cristianismo ensinou à Europa que o Homem é o servo de Deus e vive para realizar um projeto de Deus. Deus criou o Universo e, segundo o pensamento de Santo Agostinho, continua sua obra criadora através das forças seminais que fazem as plantas e os animais nascerem. O homem apenas colabora com essa atividade criadora divina preparando a terra, arando, lavrando, semeando, irrigando, capinando, protegendo as plantações contra as pragas e colhendo os produtos agrícolas. Quem realmente faz brotar os produtos agrícolas e crescer é Deus.
Da mesma forma, é a atividade criadora continuada de Deus, ajudada pelo homem, que faz nascer e crescer os animais domésticos. As florestas e os animais silvestres, é evidente, seriam obras divinas, sem qualquer colaboração humana. A atividade criadora de Deus é mais evidente no caso do nascimento de um ser humano. Aí, durante a cópula humana, repete-se a atividade criadora de Deus exatamente como aconteceu no princípio dos tempos e é descrita no Gênesis: Deus cria uma alma e a introduz no óvulo que se transforma em ovo!
Essa idéia da criação divina da alma ainda permance no criatianismo dos nossos tempos, católico e protestante, e é muito viva na população do interior dos Estados Unidos. É ela que exige e mantém o ensinamento do criacionismo nas escolas norte-americanas. O conservadorismo cristão embasou muitas das decisões do Governo Bush. Nesse dogma católico da criação da alma tem origem a oposição católica aos anticonceptivos artificiais, ao uso da camisinha como proteção contra a AIDS e outras moléstias sexualmente transmissíveis, à fertilização in vitro, à manipulação genética, à clonagem e ao uso científico e terapêutico das células-tronco embrionárias, à eutanásia. Tudo isso seria atividade humana atrapalhando o plano divino (a vontade divina), profanando a atividade divina, a atividade da natureza. Esse dogma acabou com o homossexualismo da cultura greco-romana e nutre a oposição moderna do cristianismo a esse comportamento bizarro.
Por isso, porque somente a agricultura, obra divina, é produtiva e gera riqueza de fato, o Cristianismo, na Idade Média, ensinava a fraternidade e a convivência pacífica, exaltava a pobreza e o sofrimento, como caminho para o convívio com Deus na vida futura, enquanto estigmatizava o comérico e a atividade bancária, considerados atividades econômicas marginais: “Mercator vix aut nunquam Deo placere potest!”, isto é, o negociante nunca ou raramente pode agradar a Deus, noutros termos, o negociante, via de regra, vai para o inferno!... Mas os papas, os cardeais e os bispos eram senhores feudais, que se locupletavam com os impostos e as doações dos outros senhores feudais, e igualmente dos comerciantes e dos banqueiros.
Considerando-se, pois, simplesmente a herança da moral cristã, que lhe interessava como latifundiário, pode-se entender o preconceito de Thomas Jefferson contra a atividade bancária, embora, é verdade, o cristianismo de Thomas Jefferson, amigo de Joseph Priestley - cientista e líder do cristianismo protestante, unitário e naturalista - fosse aquele cristianismo, sem ritos, de Jesus Cristo apenas homem carismático. Thomas Jefferson era adorador do Deus conhecido pela razão, não o construído pelos dogmas da Igreja, o arquiteto do Universo, como, dizem, no fim da vida Voltaire queria fazer o Papa professar. O notável político norte-americano afirmou-o claramente: "As religiões são todas iguais - fundadas sobre fábulas e mitologias... Tenho ultimamente examinado todas as conhecidas superstições existentes no mundo, e não encontro em nossa particular superstição (o Cristianismo) uma forma de redenção. São todas iguais, fundamentadas em fábulas e mitologia." Sob a influência de toda a herança cristã, o cristão iluminista Thomas Jefferson nutria preconceito visceral contra os banqueiros, os mais marginais dos negociantes marginais. Este texto não é uma profecia. É a manifestação de um preconceito, produto de uma concepção conservadora arraigada na cultura herdada da civilização da Idade Média.
(continua)

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